O vírus vai, a marca fica

Certamente estaremos todos, num futuro próximo, respirando aliviados com uma solução para a atual crise. Os doentes serão curados e os saudáveis sairão de casa – mas isso não significa que tudo volta a ser como antes.

Testemunhamos hoje um evento de gravidade e proporção muito grandes para que seja ignorado pelo curso da história. Se o bater de asas de uma borboleta pode criar uma tempestade, algo como o novo coronavírus tem, sem dúvida, o poder de induzir mudanças globais neste pequeno planeta. Continuar lendo O vírus vai, a marca fica

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A metáfora de La casa de papel

Se você ficou com a impressão de que o seriado La Casa de Papel, da Netflix, é mais que um simples seriado de assalto, acertou. Mas, para entender o que está nas entrelinhas da série, é necessário entender o contexto espanhol do roteiro.

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Essa história começa em 2002, quando o euro entrou em circulação. O Banco Central Europeu (BCE) transmitia para a moeda a imagem de segurança de sólidas instituições financeiras alemãs, belgas e holandesas. E, mesmo países que não possuíam o mesmo nível de renda per capita (como a Espanha, Portugal, Itália e Grécia), beneficiaram-se da classificação de risco e puderam tomar empréstimos a baixo custo financeiro.

O segundo capítulo da história veio em 2008, quando o governo dos Estados Unidos não salvou o banco Lehman Brothers da falência. Isso significava que a crise hipotecária americana, já identificada em 2007, não seria absorvida pelo Fed (o banco central dos Estados Unidos). Uma série de fundos europeus poderiam não valer nada, e a fase mais aguda da crise na Europa viria nos anos seguintes.

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A Espanha pagou um preço caro pelo euro: quebra de seu mercado imobiliário, crise fiscal, desemprego altíssimo foram só alguns dos problemas. Em meio à miséria econômica, o Banco Central Europeu emitia moeda como nunca, injetando liquidez na economia através da garantia de liquidez dos bancos.

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Hoje, dez anos após o estopim da crise, a recuperada Espanha ainda sente as feridas deixadas pelo passado recente, e é natural o questionamento sobre custos e benefícios da moeda unificada. Continuar lendo A metáfora de La casa de papel

XIX Cobreap 2017: cenários econômicos

(23/08/17) Estive em Foz do Iguaçu acompanhando o XIX Congresso Brasileiro de Engenharia de Avaliações e Perícias – Cobreap. E, como sempre, vou compartilhar com você os melhores momentos que pude observar.

Hoje vou falar especificamente da primeira palestra, ministrada pelo Arq. Mauro Gomes (SOBREA, IBAPE/RJ, mestre em economia UCAM). Ao contrário do que ocorreu no congresso da UPAV no ano passado (veja aqui), esta abertura não se aprofundou muito nos fundamentos macroeconômicos, preferiu fazer uma (não menos importante) revisão teórica pincelando um ou outro ponto do contexto atual.

Partindo do elevado déficit fiscal brasileiro, Gomes fez uma revisão de Hyman Minsky (ciclos de contração e expansão), um dos pais do estudo das crises sistêmicas. É de Minsky o conceito de ciclo de negócios (origem teórica do comportamento cíclico da economia, meados do século XIX). O pressuposto dessa linha teórica é o de que a economia capitalista move-se segundo um padrão estruturado. A variação em si não é uma crise (trata-se da flutuação natural onde mora parte do risco). Seguindo essa corrente, as crises econômicas não podem ser evitadas, apenas prevenidas. Continuar lendo XIX Cobreap 2017: cenários econômicos

Retrospectiva da crise 2014-2016

A crise política virou crise econômica, que depois virou crise política de novo. Mas ficou meio esquecido que a origem disso tudo está nas políticas fiscal e monetária do governo na última década. A leniência com o desequilíbrio fiscal e a intervenção pesada do planalto no Bacen forçou a Selic meta artificialmente para baixo. Explico: quando um país não fecha suas contas no azul, o investidor pede um prêmio maior pelo risco (o risco-país). Desequilíbrios nas contas públicas ampliaram este risco, o que deveria elevar a Selic – mas ocorreu o contrário por intervenção política. Em países de nível educacional elevado, seria uma ação sumariamente condenada pela opinião pública. Mas não no Brasil da ignorância econômica. Nesta terra de consumo, o crédito fácil era comemorado, e o governo ficava livre para se endividar ainda mais.

Quem observou direito o cenário percebeu que a conta que não fechava não se sustentaria por muito tempo – em algum momento o orçamento do governo seria pressionado. E quem faz investimentos tem este tipo de percepção. O crescimento baseado no consumo é voo de galinha, logo cai. E a queda na poupança agregada ajudou a frear os investimentos. Produzindo pouco, o país ficava mais pobre em silêncio, enquanto as massas continuavam enfeitiçadas pelo consumo sem lastro. Aumentaram as dívidas das famílias, e o risco aumentava mais. Continuar lendo Retrospectiva da crise 2014-2016

Proteja seu dinheiro: enquanto aguardamos pelo novo Brasil…

Obviamente estamos num momento de transição que extrapola a esfera política nacional. E será uma transição lenta, ao que as insistências irracionais indicam… Mas não é necessariamente um momento ruim para o investidor. Ainda somos o último peru com farofa do mundo (prestes a deixar de sê-lo), para citar o professor Delfim.

Enquanto aguardamos pelo novo Brasil que, tímido, começa a aparecer aqui e ali, ainda temos uma taxa Selic meta de 14,25% ao ano em títulos de Tesouro Direto acessíveis a qualquer um (com menos de 30 reais você entra na farra). E a reboque vem toda a enorme família italiana do CDI. O risco? Claro, os CDS estão gritando a bagunça fiscal que esse pedaço da América do Sul virou, mas a moratória que vem em nossa direção ainda se confunde com a luz no fim do túnel. Dá tempo de ganhar e sair.

E sair para onde?

Ora, já passamos por situações caricatas nesta terra no passado, estamos apenas mantendo nossa tradição. E recomendo que você olhe como foi o comportamento da Continuar lendo Proteja seu dinheiro: enquanto aguardamos pelo novo Brasil…