Proteja seu dinheiro Especial: UPAV 2016 Mesa de abertura do congresso – Ciclos econômicos na América: cenários e tendências

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Relato pessoal da apresentação do Mesa Redonda 1, realizada em 20 de outubro de 2016, das 9h às 10h30, nas dependências do Hotel Windsor, no Rio de Janeiro (RJ), abrindo os trabalhos do congresso.

A mesa teve os seguintes palestrantes:

  • Caio Megale (Brasil), economista pela USP, colunista do jornal Valor Econômico, staff da equipe econômica do Banco Itaú;
  • Felipe Pontual  (Brasil), economista pela PUC-RJ, representante da ABECIP, especialista em mercado de capitais;
  • Martin Andrés Jaco (Brasil), engenheiro civil pela USP, representante da BR Properties.

Segue um resumo pessoal dos pontos mais importantes, anotados à mão.

Caio Megale

Pesquisa econômica do Banco Itaú fez um levantamento do PIB Global recente e obteve o seguinte histórico:

  1. Entre 2001 e 2002, houve uma aceleração entre 5% e 5,5% no crescimento econômico mundial, muito acima da média histórica de 3% a 3,5%. Fato relevante foi a entrada da China na OMC e o salto na demanda de commodities de países emergentes. A contrapartida foi a alta no preço destes insumos, o que beneficiou os países da América Latina, em geral ofertantes de insumos básicos;
  2. Em momento mais recente houve a desaceleração da economia chinesa (crescimento aproximado caiu de 15% para 6% ao ano). Além disso, os EUA sinalizaram alta na taxa de juros, o que atrairia a liquidez internacional para a América do Norte. Entre 2011 e 2012 houve uma queda inicial no preço das commodities. Em 2014 esta queda se acentuou e houve redução nos investimentos no continente. No Brasil especificamente, a queda foi potencializada pelas crises política e fiscal domésticas. E toda a América Latina sentiu a desaceleração de alguma forma;
  3. Há 3 anos que a China cresce acima do esperado pelo mercado, trazendo reequilíbrio no mercado internacional de commodities. A mínima de preços foi em janeiro de 2016, a partir de quando se iniciou um processo de leve reaceleração da economia global. Nos EUA, houve sinal de alta na taxa de juros, ainda não concretizada por adiamentos mas mantido o viés de alta. O medo de uma elevação brusca que havia antes se reduziu. Enquanto isso, o BCE e o BC japonês mantêm taxas de juros reais negativas.
  4. Perspectiva para o que virá: Caio não espera por recessão nem pelas fortes altas chinesas do passado (anos 2000). O cenário é relativamente favorável à América Latina, devemos observar o comportamento cambial dos próximos meses. O Brasil tem o beta mais alto da região e tem buscado recentemente o reequilíbrio (a partir de Dilma 2), com moedas um pouco depreciadas em relação ao pré-crise. Este cenário não se aplica ao México, que está mais afetado pelo “risco Trump” (risco de curto prazo). Tudo depende agora do comportamento dos swing states nos EUA, que por enquanto parecem estar com Hillary;
  5. Quem será o próximo motor? Possivelmente: mercados domésticos da América Latina, as reformas brasileiras (previdência, trabalhista e tributária), maior competitividade da região, retomada dos investimentos privados, acordos comerciais da região. Hoje quem já tem este cenário (Peru e Colômbia), já apresenta PIB em alta. A Colômbia teve um pequeno “soluço” pela dificuldade de emplacar os acordos de paz, mas tudo indica que retomará o crescimento no curto prazo. Quem está excluído deste processo de crescimento: Argentina (está correndo atrás do prejuízo, está fazendo reformas importantes mas a um custo doloroso para o país) e Venezuela (ainda longe dos ajustes necessários);
  6. Brasil: passou por reformas importantes durante FHC 2 e Lula 1. Quando a maré virou, foi o que mais se prejudicou por estar menos protegido. Como diz Warren Buffet, quando a água baixa é que sabemos quem está nadando nu. Chile e Peru foram os mais preparados e tiveram melhor resiliência ao período de queda no preço de commodities. A nudez brasileira reside principalmente no endividamento das famílias. O cenário atual ainda é de recessão, assim como a Argentina, mas com melhores perspectivas para o reequilíbrio.
  7. O cenário atual da América Latina é de um início do amanhã depois da tempestade. Os riscos estão em nossa tendência latina ao populismo. As oportunidades estão nos ajustes necessários para a retomada do crescimento.

Felipe Pontual

Crédito imobiliário no Brasil teve um comportamento errático entre 1960 e 1990, com surtos de crescimento, recessão e pacotes. O comportamento se acentuou no final dos anos 1980, com a inflação alta. A partir de 1994, com a estabilização da economia pelo Plano Real, houve forte e rápido crescimento do crédito. Fatores posteriores deram mais combustível para esse crescimento: além da estabilidade da moeda, maior segurança jurídica ao investidor, o IPO das grandes incorporadoras nacionais e a figura da alienação fiduciária (em 1997) criaram ambiente muito favorável para o mercado imobiliário brasileiro. Foram feitos mais de 20 IPOs no setor, um número muito significativo para nosso mercado de capitais. Com isso o crédito imobiliário saltou de R$ 6 bi em 2003 para mais de R$ 150 bi em 2014 (auge).

Entretanto, a partir de 2012, o desequilíbrio fiscal do governo, a inflação fora da meta, a Selic em alta e o desemprego (com consequente queda na atividade econômica) derrubaram o crédito imobiliário para R$ 106. A queda também foi motivada pela falta de procura (baixa da confiança do consumidor), não apenas pela falta de funding. No Brasil, 65% dos recursos da poupança devem obrigatoriamente ser aplicados no financiamento imobiliário.

Felipe corrobora a fala anterior de Caio, mostrando que os juros estavam em alta até janeiro de 2016 (pico de 14,25% a.a. meta). Em outubro deste ano os juros voltaram a cair (14% a.a. meta). O mercado brasileiro é enorme: há em torno de 1 milhão de casamentos e 340 mil divórcios por ano no país. Hoje o crédito imobiliário brasileiro representa 9,8% do PIB (o Chile, o melhor região, tem 20,2% do PIB no financiamento imobiliário).

Nossas necessidades atuais são: estabilidade macroeconômica e política e funding compatível com nossa realidade de custo de oportunidade. Nossa distribuição atual do funding de crédito imobiliário é:

  • Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos: 45%
  • Fundo de Garantia por Tempo de Serviço do trabalhador: 31%
  • Letras de Crédito Imobiliário: 18%
  • Certificados de Recebíveis Imobiliários: 6%

Precisamos de uma migração paulatina para o crédito livre, com redução de participação de SBPE e FGTS e ampliação de LCI, CRI e Letras Imobiliárias Garantidas – LIG, que pretendem ser covered bonds brasileiros. Este tipo de aplicação, segundo seus idealizadores, poderiam atrair também o investidor estrangeiro. Além disso, é importante popularizar as vantagens da inflação controlada para a economia.

Martin Andrés Jaco

As entregas corporativas de 2016 foram decisões de investimentos tomadas em 2010, momento bem diferente do atual. este período de maturação nos faz ter certeza do que será entregue entre 2017 e 2020, resultado de decisões tomadas no passado.

Entre 2014 e 2015 houve recordes de absorção deste tipo de empreendimento na cidade de São Paulo, ao mesmo tempo em que o mundo enfrentava crises – portanto, são movimentos desvinculados. Na cidade do Rio de Janeiro, entre 2013 e 2015 houve grande volume de entrega, mas com queda na absorção, um comportamento totalmente diferente de São Paulo. O motivo alegado foi a queda nos preços de óleo e gás no mercado internacional.

O ponto aqui é a necessidade de se olhar além do comportamento macro da economia, observar a inserção daquele ativo específico. Por exemplo, a mesma cidade de São Paulo tem ciclos econômicos diferentes entre a Faria Lima e a Marginal Pinheiros, separadas por apenas algumas centenas de metros entre si. Diferentes ciclos coexistem na mesma cidade. Generalizar a análise de cenários pode elevar o risco do investimento.

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