Como o município sem recursos pode investir

Cofres públicos vazios não são uma exclusividade brasileira. Desde a segunda metade do século passado, cresceu por todo o mundo o entendimento de que o Estado possui genuínas obrigações sociais amplas e crescentes. Sem discutir se tal entendimento estaria correto ou não, fato é que, via de regra, tal interpretação começou a sentir seus efeitos no cada vez mais distante equilíbrio fiscal das contas públicas. Por todos os continentes, desde a década de 1980 as administrações públicas sentiram os impactos de demandas crescentes simultâneas à pressão por eficiência e responsabilidade fiscal.

As consequências desse cenário, somadas a outras questões locais e regionais resultaram na idealização de novos instrumentos à gestão pública, abrindo estratégias de financiamento de investimentos públicos em parceria com o capital privado, permitindo a ação pública por meio de instrumentos de mercado aberto e até interferindo em estruturas tradicionais de comércio. Continuar lendo Como o município sem recursos pode investir

Contra ilha de calor, Plano Diretor

Santiago do Chile

Diversos estudos [1] estão concluindo, sem margem para dúvidas, que as principais causas de ilhas de calor e sobrelevarão de temperatura do ar nas grandes cidades estão associadas a um pequeno grupo de fatores:

  1. Verticalidade de edificações (altura superior a 6 pavimentos)
  2. Ausência de áreas verdes contínuas de grande porte (árvores isoladas e pequenos grupos arbóreos não fazem diferença)
  3. Densidade populacional elevada
  4. Ausência de mata nativa

Observe que todos esses elementos são perfeitamente gerenciáveis via Plano Diretor Municipal. Mais que isso, é obrigação deste instrumento legal direcionar esses aspectos urbanos. Em outras palavras, não há mais como o poder público e legisladores municipais se esquivarem desta responsabilidade. Continuar lendo Contra ilha de calor, Plano Diretor

Cities 1.5: uma aula do ex-prefeito de Toronto

Bicicleta em área urbana

Apresentado por David Miller, diretor administrativo do Centro de Política e Economia Climática do C40 e ex-prefeito de Toronto (2003-2010), o podcast semanal da C40 aborda soluções transformadoras para os desafios climáticos mais urgentes da atualidade. Miller entrevista prefeitos, formuladores de políticas municipais, economistas, líderes jovens, acadêmicos e outros profissionais que estão na linha de frente dessa batalha. O podcast cobre uma ampla gama de tópicos, como a criação de resiliência nas cidades para enfrentar os impactos das mudanças climáticas, a busca pela justiça climática e resiliência global, a transição para uma economia mais sustentável, o orçamento climático e a transformação de compromissos em ações concretas, além do uso de mapeamento de dados para acelerar a descarbonização.

O podcast enfatiza a importância de manter o aumento da temperatura média global dentro da meta de 1,5 grau estabelecida no Acordo de Paris de 2015. Desde então, líderes urbanos têm mostrado que essa meta é não apenas essencial, mas também alcançável, contanto que ações rápidas e decisivas sejam tomadas. Se não agirmos, as temperaturas globais podem quase dobrar a meta original, resultando em impactos devastadores para o clima global e colocando todos em risco de catástrofe total. Continuar lendo Cities 1.5: uma aula do ex-prefeito de Toronto

Como migrar do automóvel para modais inteligentes [C40]

A organização C40 Cities Climate Leadership Group, uma aliança global de grandes cidades comprometidas em enfrentar as mudanças climáticas, publica periodicamente textos e manuais para a transformação urbana sustentável. Entre outros eixos, o transporte urbano é tema abordado com grande frequência principalmente por ser responsável, atualmente, por um terço de todas as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.

Transporte de pessoas, novo conceito de vias urbanas sustentáveis

A mudança de mentalidade, abandonando o conceito de vias de deslocamento de automóveis para o de vias de deslocamento de pessoas é extremamente desafiador, significa alterar o modelo mental construído e reforçado durante os últimos 100 anos. As cidades mais bem-sucedidas hoje focam no movimento de pessoas, oferecendo mais opções de transporte. Continuar lendo Como migrar do automóvel para modais inteligentes [C40]

Da taxa de desconto na modelagem econômico-financeira

A definição da taxa de desconto pelo custo médio ponderado de capital nas modelagens traz discussões adicionais àquelas naturais do método de construção do WACC. Dois dos mais importantes são o regime de tributação sobre a renda e a variação na estrutura de capital da empresa, que se apresenta na forma de Sociedade de Propósito Específico tanto para project finance quanto para parcerias público-privadas (PPP). Esses dois elementos precisam estar bem equacionados para que não potencializem os demais diversos graus de liberdade que essas estruturações corriqueiramente apresentam.

Curva financeira típica de planos de negócios de concessões públicas e parcerias público-privadas
Curva financeira típica de planos de negócios de concessões públicas e parcerias público-privadas

O primeiro aspecto, regime de tributação, afeta diretamente a taxa de desconto a ser utilizada porque interfere diretamente no custo de capital total. O regime de tributação por lucro real permite a dedução do serviço da dívida no cálculo do imposto devido, gerando o que se conhece em finanças como benefício fiscal (tax shield). Porém, esse benefício não existe no regime de lucro presumido. E isso gera uma outra discussão, porque as fases iniciais de investimentos, nas quais a SPE costuma registrar prejuízos significativos, criam situações vantajosas para o uso do lucro reral, e as fases seguintes (de amortização dos investimentos) geram vantagens para o uso do lucro presumido. Ou seja, na prática, o custo de capital varia ao longo do tempo, e muitos estruturadores preferem usar uma WACC diferente para cada período. Continuar lendo Da taxa de desconto na modelagem econômico-financeira