Construir acima do potencial do lote é possível?

Infelizmente esse conceito tem sido divulgado com equívocos por veículos de imprensa há muitos anos. Para entender como o potencial de construção (coeficiente de aproveitamento) de um lote funciona, é preciso compreender suas regras básicas.

O coeficiente de aproveitamento (CA) diz o quanto será possível aprovar de área construída em relação ao tamanho do lote. Por exemplo, um lote de 1.000m2 com CA=2,5 permite construção de 2.500m2.

Alguns artifícios da legislação brasileira (Estatuto da Cidade) permitem que o município cobre do incorporador imobiliário o impacto do adensamento populacional sobre infraestrutura públicas (água, esgoto, transporte, equipamentos, viário etc.). A ideia é desonerar a população em geral de uma pressão exercida sobre a infraestrutura urbana existente, de forma a desestimular a especulação imobiliária (retenção de terrenos vazios) e funcionar como mecanismo compensatório a favor da justiça social urbana.

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A cidade de Cerdá

Quase sempre, a grande transformação física de alguma cidade vem em resposta a uma motivação econômica. Da mesma forma que cidades estão fisicamente preservadas em decorrência de um súbito declínio econômico de suas principais funções capitalistas (como ocorreu com Parati/RJ, Goiás/GO, Ouro Preto/MG, etc.), o oposto também acontece: um forte crescimento econômico impulsiona fortes alterações estruturais urbanas. Foi o que aconteceu com a capital da Catalunha em meados do século 19.

O Plano Cerdá para Barcelona
O Plano Cerdá para Barcelona

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A cidade oitocentista europeia

O período compreendido entre 1850 e 1900 foi caracterizado por diversas modalidades de complexidades e embates das mais diversas naturezas na sociedade europeia. A cidade clássica e barroca continuavam presentes, coexistindo com novas tipologias protomodernistas. A densidade demográfica sofria forte crescimento, enquanto a industrialização trazia diversas novas formas de conflitos. Continuar lendo A cidade oitocentista europeia

A cidade medieval europeia

A queda do Império Romano desacelerou brutalmente o crescimento demográfico urbano europeu. A vida urbana entrou num longo período de estagnação, que só viria a ser novamente alterada no século 5 com a estabilidade política e o ressurgimento do comércio. Enquanto isso, os centros urbanos pré-existentes foram se modificando, formando um novo conceito urbano europeu de adaptações estruturais. O resultado morfológico deste processo é a cidade medieval. Continuar lendo A cidade medieval europeia

A cidade hipodâmica

Hoje começaremos aqui nossa série sobre Desenho Urbano, uma série de textos nos quais vou falar sobre cidades e suas origens em publicações curtas e objetivas.

Há inúmeras formas de iniciar essa narrativa, que pode variar cronológica e geograficamente. Adotarei, inicialmente, a linha narrativa europeia por ser a linha de influência cultural que recebemos com muita intensidade, para depois retornar a outras referências culturais e fazer esse contraponto (espero que crítico o suficiente, como deveria ser). As origens culturais europeias ocidentais exigem que façamos ao menos alguma menção à Grécia clássica. E, de fato, é de lá uma das referências seminais mais importantes à morfologia urbana ocidental: a cidade hipodâmica.

O traçado urbano regular e ortogonal costuma ser designado por “hipodâmico” em referência a Hipoddamus de Mileto (498 a.C. – 408 a.C.), considerado criador do planejamento urbano em quadrículas e responsável pelo projeto de diversas áreas de cidades gregas da época clássica. Na verdade, não existe nenhuma prova de que a quadrícula urbana tenha realmente sido criada por ele.

Um dos exemplos mais emblemáticos de sua obra, o porto de Pirineu (Atenas) foi desenvolvido em quadras de aproximadamente 2.400m2 para pequenos grupos de casas de dois pavimentos. O projeto pode ser considerado avançado para sua época: as fachadas estavam orientadas para sul (melhor insolação no hemisfério norte), e sua infraestrutura urbana de abastecimento e escoamento hidráulico foram dimensionadas a partir de equações polinomiais. Continuar lendo A cidade hipodâmica