Tony Garnier desenvolve sua tese da Cidade Industrial enquanto bolsista do Prix de Rome, publicada em 1904. Suas propostas acabam se tornando uma das mais importantes referências para a adaptação de cidades às necessidades da sociedade industrial sem romper radicalmente com seu desenho tradicional.
A novidade também vinha da forma como o modelo surgiu, inaugurando a era dos modelos de origem científica e metodológica acadêmica para a aplicação à realidade epistemológica. Ainda assim, apesar de ter sido publicada em 1904 na revista La construction lyonnaise, a proposta de Tony Garnier permaneceria desconhecida até 1917, quando viria a ser divulgada em livro.


Outra diferença de Tony Garnier é o fato de ter trabalhado de forma independente, sem qualquer vinculação com as estruturas de poder vigentes ou da opinião pública. Também não participava dos fóruns de debates de vanguarda, nem adotava qualquer postura militante de defesa pela aplicação de seu modelo. Essa postura contribui para deixá-lo no quase anonimato, e sua proposta, desconhecida, apesar de ter feito parte do grupo fundador da Sociedade Francesa de Urbanistas (SFU).
Na década de 1960, um grupo de pesquisadores descobre a obra de Tony Garnier e demonstra seu importante papel na origem da cidade moderna, além de seu caráter inegavelmente visionário sobre o destino que as cidades viriam a ter pela adaptação das cidades tradicionais à lógica industrial.
O modelo de Garnier era um composto formado por dois lados aparentemente opostos:
- Elementos da cidade formalista francesa como base estruturada do tecido urbano, mantendo a regularidade de quadrículas, eixos e perspectivas;
- Elementos novos e reformistas, adaptando elementos funcionais e físicos às necessidades da cidade moderna.
José Lamas [1] situa Tony Garnier também no grupo do formalismo francês em função de sua sistemática busca pela ordem e organização precisa da morfologia urbana. Por outro lado, o modelo da Cidade Industrial de Garnier antecipa temas do movimento moderno, como o zoneamento funcional por categorias de uso e a consequente fragmentação da mancha urbana em agrupamentos monofuncionais.

Também merece destaque o caráter vanguardista dos quarteirões permeáveis, verdes, onde surgem edifícios soltos no território. Teria sido revolucionário se a ordem rigorosamente formalista francesa não estivesse regendo todo o conjunto, e se o espaço urbano não estivesse definindo e organizando toda a forma da cidade.
[1] LAMAS, José Maria Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.
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