O próximo degrau das parcerias e concessões

Futuro

Dizemos há muitos anos que as parcerias público-privadas (PPP) são novidade no Brasil: a lei federal (11.709) que a instituiu em 2004 tem mais de 20 anos. É uma ferramenta nova à disposição do gestor público, sem dúvida, mas há que esclarecer o que significa tal juventude numa escala compreensível. Numa analogia à vida humana, certamente não seria um recém-nascido, nem um bebê, e talvez já tivesse até superado sua primeira infância.

Temos, atualmente, contratos de parcerias em fase de advento contratual (fim do seu prazo previsto), novas rodadas de licitações, revisões e complementações de legislação e normas técnicas, setores maduros e bem estruturados, indicadores setoriais, grupos operadores consolidados e reconhecimento internacional da maturidade brasileira no assunto. Certamente já superamos os primeiros degraus dessa escada cujo objetivo é viabilizar o tão necessário investimento em infraestrutura e serviços públicos de qualidade no país. Continuar lendo O próximo degrau das parcerias e concessões

BIM e o processo de projeto [GA]

escritório de arquitetura

Estamos em um momento histórico de transição para um ecossistema de desenvolvimento de projetos mais colaborativo e interconectado. As ferramentas, processos e formas de trabalhar estão mudando rapidamente para uma realidade de projeto simultâneo e de interoperabilidade em tempo real. E os desafios se apresentam com a mesma rapidez em diversos aspectos. Um dos mais importantes certamente é a transformação do processo projetual, o que suscita muita discussão sobre potencialidades e limitações trazidas a reboque.

Uma vantagem óbvia deste novo cenário é a possibilidade real de avanços em um ideal que já existe há algum tempo: o do projeto integrado, ou seja, de quebra da linearidade de projetos desenvolvidos em sequências de tarefas em diferentes disciplinas e acompanhados por cronogramas em cascata. Segundo Andrade e Ruschel (2011), a forma tradicional de projetar promove uma integração parcial após a etapa de concepção arquitetônica, reduzindo o potencial que as demais disciplinas possuem de contribuir para uma concepção de excelência global. Ou seja, a concepção estrutural, de instalações, os custos etc. ficam limitados aos ganhos marginais e propostas de pequenos ganhos de eficiência. Continuar lendo BIM e o processo de projeto [GA]

Planos de negócios para escritórios de arquitetura e urbanismo [e]

Hoje farei aqui a abertura de um assunto que deve vir a tomar o espaço deste blog em uma sequência de textos nos quais falaremos sobre aspectos de planejamento e gestão dos escritórios de arquitetura e urbanismo. Fique à vontade para comentar, fazer sugestões ou solicitações, a ideia é abrir um debate tão amplo quanto possível sobre estas que (segundo os próprios arquitetos titulares dos escritórios brasileiros) são grandes dificuldades enfrentadas diariamente no espaço de trabalho dos arquitetos por excelência.

Ao longo dos anos de 2018 a 2020, foi realizada uma pesquisa no âmbito do curso de pós-graduação em arquitetura e urbanismo da FAU-USP (primeira publicidade dada aos resultados em 17/12/2020, na defesa de tese) sobre os desafios e aspectos críticos para a construção de planos de negócios para escritórios de arquitetura e urbanismo. Há muito o que comentar sobre esse estudo, que nos alimentou com um volume muito grande de informações, e pretendemos divulgar o máximo possível, de forma organizada a partir de agora, de diversas formas: através de organizações profissionais de classe, publicação de artigos científicos, por este blog, e assim por diante. Fique à vontade para sugerir que assunto você gostaria que fosse abordado primeiro – e para isso também escrevo hoje, abrindo o espaço de comentários abaixo para suas sugestões. Continuar lendo Planos de negócios para escritórios de arquitetura e urbanismo [e]

Os erros da China (antes do boom econômico)

 

Quem olha para a pujança econômica da China super-industrializada de hoje, após a entrada do país na Organização Mundial do Comércio, pode se esquecer dos erros cometidos ao longo dos anos 1970 e 1980. Mas essa é uma observação pertinente – e importante, pois estabelece o cenário doméstico (e em países vizinhos) para o que viria a acontecer nas décadas seguintes.

Em 1949, quando da revolução comunista, a China apresentava um padrão de desenvolvimento extremamente desequilibrado: 90% da infraestrutura industrial do país concentrava-se em aproximadamente 100 “portos abertos”. Quase 20% estava apenas em Shangai. Essas cidades estavam sob controle estrangeiro, a ponto dos chineses serem tratados como forasteiros. Um parque de Shangai chegou ao extremo de fixar um aviso que proibia a entrada de cachorros e chineses.

A consequência disso foi uma postura extremamente antiurbana por parte dos novos dirigentes comunistas, os quais levantaram a bandeira da revolução no campo, acreditando que ali residiam os valores mais genuinamente chineses não corrompidos. Além disso, os primeiros anos após a revolução foram marcados por intenso êxodo rural, a as cidades estavam completamente despreparadas para receber essa população migratória.

Numa tentativa de reverter este fluxo, o governo chinês da época colocou como meta a industrialização do campo. Essa política ficou famosa como hsan chan xia xiang (“a juventude instruída ruma para as montanhas e para o campo”). Assim, o governo despachou milhões de jovens recém-graduados para áreas rurais, com a missão de formar uma liderança de promoção do desenvolvimento. Continuar lendo Os erros da China (antes do boom econômico)