O combate ao uso do automóvel nas cidades

Barcelona, 2023: via exclusiva para transporte coletivo sobre trilhos. Automóveis foram banidos deste tipo de via
Barcelona, 2023: via exclusiva para transporte coletivo sobre trilhos. Automóveis foram banidos deste tipo de via

Quanto mais o tempo passa, menor fica o espaço social para o automóvel particular nas cidades. Qualquer iniciativa, política ou programa de sustentabilidade urbana que se preze adota ações de desincentivo ao uso do carro para deslocamentos cotidianos. Não há como desenvolver soluções sustentáveis de mobilidade no longo prazo mantendo este modal com uso intenso.

Qualquer brasileiro habitando uma cidade com mais de 300 mil habitantes percebe facilmente que obras de ampliação viária se tornam obsoletas e insuficientes em muito pouco tempo. Como já se disse, tratar o problema do trânsito alargando vias é semelhante a tratar o problema da obesidade comprando roupas mais largas.

As propostas de transporte urbano que mais funcionam, e que certamente serão as soluções de um futuro próximo, estão muito mais alinhadas com o que se observa hoje em cidades europeias ocidentais e nórdicas. São pautadas pela oferta de um conjunto de ofertas de transporte público de alta, média e baixa capacidade, interconectadas entre si, e aliadas a políticas de restrição ao uso do carro e contenção do espraiamento da mancha urbana (urban sprawl). Continuar lendo O combate ao uso do automóvel nas cidades

O que é GovTech?

Algumas soluções tecnológicas e de processos têm surgido nos últimos anos com o objetivo de melhorar a eficiência e a transparência dos serviços públicos, e de facilitar a interação entre o governo e a população. Estas soluções estão sendo chamadas de GovTechs, em analogia a outras “techs” atuais que estão revolucionando diversos setores.

Trago hoje alguns exemplos do que tem se enquadrado nesta categoria: Continuar lendo O que é GovTech?

Censo 2022: um país de população fluida

Cidade média brasileira

O Censo 2022 do IBGE identificou características importantes e distintivas em nossa composição e distribuição demográfica. Uma das constatações mais importantes, do ponto de vista urbano, foi a consolidação de uma enorme constelação de cidades pequenas: 44,8% dos municípios brasileiros têm menos de 10 mil habitantes. E, como se pode imaginar a partir desse dado, a conclusão seguinte foi que nossa população está se concentrando cada vez mais em cidades grandes: 57% da população do país está localizada em apenas 319 municípios (menos de 6% do total).

O fenômeno está bem caracterizado na descoberta de que muitos municípios pequenos e médios no Brasil perderam população, enquanto quase todas as maiores cidades do país cresceram ainda mais em termos populacionais. Porém, mesmo entre as maiores cidades brasileiras, algumas também estão perdendo população: das 20 maiores, 8 delas (40%) tiveram crescimento populacional negativo. São elas: Continuar lendo Censo 2022: um país de população fluida

Das novas funções urbanas (e humanas)

Talvez a pandemia de covid-19 tenha colocado em definitiva obsolescência a Carta de Atenas ao deslocar os eixos principais da discussão sobre as funções humanas da cidade. Isso ocorre principalmente por adentrarmos em um novo período histórico no qual a discussão das localizações deixa de ser uma questão primordial de desenho urbano e passa a ganhar relevâncias de outras naturezas.

Resultado do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna realizado em 1933, a Carta de Atenas foi um manifesto conduzido por um Le Corbusier que ainda consolidava sua posição no cenário urbanístico mundial. Com sua visão racionalista característica, simplificou as funções urbanas em quatro categorias básicas: habitar, trabalhar, lazer e a circulação.

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A cidade alemã de Ernst May

A Alemanha resultante da Primeira Guerra Mundial era um país em frangalhos econômicos, uma situação que só viria a ser revertida após os anos vinte. Porém, uma série de elementos a colocaram também num contexto que permitiu muitas experimentações arquitetônicas, urbanísticas e com especial destaque para as iniciativas habitacionais.

As "siedlungen" alemãs: Roemerstadt (1927) e Westhausen (1930)
As “siedlungen” alemãs: Roemerstadt (1927) e Westhausen (1930)

De fato, aquele país produziu no período unidades habitacionais em uma escala tão grande que só seria vista em muitos outros países após a Segunda Guerra Mundial. E não era apenas um feito quantitativo, uma vez que o governo alemão conjugava essa produção com o teste de novas teorias para os programas habitacionais. Os exemplos de Berlim e Frankfurt traziam à realidade diversos ideais modernistas: controle urbanístico, industrialização e racionalização da construção, produção de habitação social, entre outros. Continuar lendo A cidade alemã de Ernst May