Iniciaremos hoje uma série de 4 artigos sobre o custo de capital para uma empresa:
- O que é coeficiente de correlação?
- O que é Beta?
- Custo de capital próprio (CAPM)
- Custo de capital total (WACC)
Custo de capital é o custo de oportunidade que deve ser superado pelo empreendimento para valer a pena manter o negócio ativo. Se esta taxa não é ultrapassada pelo lucro líquido, significa que o investidor está perdendo dinheiro. Vamos explicar aqui, item por item, como calcular esta taxa.
Este cálculo atravessa três principais assuntos de interesse deste blog:
- Viabilidade econômica de empreendimentos imobiliários (incorporação)
- Gestão de escritórios de arquitetura e engenharia
- Avaliação econômica de imóveis (pelo método da capitalização da renda)
O primeiro e mais rudimentar indicador de comportamento de qualquer ativo é a chamada correlação. Este é um termo utilizado cotidianamente, o que facilita seu entendimento. Por exemplo:
- Correlação entre poluição do ar e aquecimento global
- Correlação entre taxa Selic e inflação
- Correlação entre desemprego e violência
E assim por diante.
Repare que a correlação estuda o comportamento de uma determinada variável em relação a outra. Veja também, pelos exemplos acima, que é difícil comprovar a dependência do comportamento de uma em relação à outra. De fato, não se trabalha com provas, e sim com evidências de comportamento. E estas evidências podem ser demonstradas estatisticamente, tanto da existência de correlação quanto de sua ausência.
Tome como exemplo a correlação entre o comportamento de um ativo (por exemplo, uma ação de certa empresa) e o comportamento do mercado. Para estudar se existe correlação entre elas, pegamos uma amostra de retornos diários da ação (observados por sua negociação em bolsa de valores) e um indicador do retorno médio de mercado naqueles mesmos dias.
Como não existe um indicador que mostre o comportamento global do mercado, utilizamos em seu lugar outro indicador, que demonstre o comportamento diário de forma mais ampla possível. O mais próximo disto é o índice de bolsa de valores que melhor represente o retorno médio diário do mercado amplo. No Brasil, este indicador é hoje o Ibovespa (IBOV). Esta variável é chamada proxy (uma variável utilizada no lugar de outra). Por exemplo, para a avaliação de imóveis costuma-se utilizar a renda do setor censitário (IBGE) ou o índice fiscal da região como proxy para a localização do imóvel.
Para observar melhor a correlação entre as duas variáveis (ativo versus proxy de mercado), plotamos um gráfico colocando cada variável em um eixo (x e y) e pontuamos os comportamentos diários da cada evento (retorno diário), sejam eles positivos ou negativos.
O desenho formado nos dá uma ideia visual de como se processa a correlação entre as variáveis. Em primeiro lugar, se há:
- correlação fraca, quando há pontos dispersos, sem comportamento claro
- correlação forte, quando os pontos estão próximos uns dos outros, formando um comportamento identificável, seja ele uma linha, curva, assíntota, senoide, etc.

Logo somos tentados a tentar medir esta correlação para comparar diversos ativos, por exemplo. A primeira pessoa a estudar este assunto foi o estatístico inglês Francis Galton, na década de 1880, cujo objetivo era entender diferenças humanas herdadas geneticamente. É dele o conceito de correlação, surgido em um de seus 340 trabalhos, e suas pesquisas deixaram um legado de extremo avanço no assunto.
Mas Galton não chegou a desenvolver um indicador para a correlação entre duas variáveis. Este trabalho foi desenvolvido por seus seguidores, e o mais famoso deles foi Karl Pearson, que chegou a um coeficiente de correlação lógico e de fácil aplicação. Este coeficiente, que ficou conhecido por seu nome, é dado por:

Onde:
xi e yi são as observações diárias de comportamento das variáveis x e y, respectivamente. Em nosso exemplo, x poderia ser o retorno diário da ação, e y o retorno diário do Ibovespa.
O coeficiente de correlação de Pearson, ou simplesmente r, é uma medida muito prática porque varia de -1 (correlação negativa absoluta) até +1 (correlação positiva absoluta).
Como as correlações são observações estatísticas de eventos reais, é virtualmente impossível atingir estes limites. Assim sendo, consideramos, grosso modo, três situações possíveis:
- r < -0,7 : forte correlação negativa. Significa que quando x aumenta, y tende a diminuir, e vice-versa, considerando esta amostra
- r > 0,7 : forte correlação positiva. Significa que quando x aumenta, y tende a aumentar também, e vice-versa, considerando esta amostra
- r em torno de zero: não há correlação comprovável entre as duas variáveis, considerando esta amostra

Claro que existem outros testes estatísticos a fazer antes de termos segurança sobre a existência ou não de correlação entre as duas variáveis. Mas o conceito básico é dado pelo coeficiente de correlação (que não deve ser confundido com coeficiente de determinação).
Vencida esta etapa, o próximo desejo de quem estuda ativos financeiros será medir a intensidade de alteração de uma variável em função de outra, informação que o coeficiente de correlação não consegue fornecer. Esta medida será dada por outro indicador, chamado índice beta.
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