A vida nos coloca frente a muitos possíveis caminhos, dos quais escolhemos quais trilhar. Alguns são obrigatórios, encontros com o divino. Quem caminha é a alma. O encontro é consigo. E o homem que vai não volta, pois quem volta é outro.

Um desses caminhos parte de Machu Picchu para o Portal do Sol (Intipunku), uma caminhada de 3 horas ida e volta, mais ou menos. Altamente recomendado para qualquer ser humano. Obrigatório para arquitetos. Poderia estar num evangelho apócrifo: “o arquiteto que se aproxima daquele caminho de pedra, dele não deve se escusar, sob pena de seguir o resto de sua vida na escuridão”.

A altitude é a prova a que a criação se submete e sublima, uma evolução em poucas horas para levar o oxigênio aos confins do corpo.
A trilha se afasta de Machu Picchu (na verdade era o caminho Inca de acesso a ela) por uma encosta íngreme e rochosa. Acompanhar uma montanha tão singular é como topografia transcendental. É viver a curva de nível.
Após algum tempo de caminhada, uma curva à esquerda, e passa a ser possível visualizar Machu Picchu lá embaixo. E fica clara sua localização se você o fizer num fim de tarde: é onde o sol atinge a montanha por mais tempo durante o dia, por mais dias durante o ano. No alto, mais perto do deus-sol. O sol indica o lugar, não cabe ao ser humano escolher.

No meio do caminho, ruínas do império incaico te convida a parar e contemplar a cidade perdida, o templo do sol.
No trecho final, o esforço maior, uma última provação de fé, parece não haver mais trilha em alguns pontos em que as escarpas da montanha ocultam o destino.

Mas persevere, pois o Intipunku vale a pena. Não dá para descrever com palavras, só com o coração.

Boa viagem.
Mendoza / Bogotá / Montevideo
5 comentários em “Machu Picchu para arquitetos: Intipunku”