Como migrar do automóvel para modais inteligentes [C40]

A organização C40 Cities Climate Leadership Group, uma aliança global de grandes cidades comprometidas em enfrentar as mudanças climáticas, publica periodicamente textos e manuais para a transformação urbana sustentável. Entre outros eixos, o transporte urbano é tema abordado com grande frequência principalmente por ser responsável, atualmente, por um terço de todas as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.

Transporte de pessoas, novo conceito de vias urbanas sustentáveis

A mudança de mentalidade, abandonando o conceito de vias de deslocamento de automóveis para o de vias de deslocamento de pessoas é extremamente desafiador, significa alterar o modelo mental construído e reforçado durante os últimos 100 anos. As cidades mais bem-sucedidas hoje focam no movimento de pessoas, oferecendo mais opções de transporte.

Mover pessoas de veículos particulares para transportes sustentáveis melhora a saúde das pessoas de diversas maneiras diretas e indiretas, contribui para a prosperidade das cidades (veja aqui), além de reduzir a emissões de gases de efeito estufa.

A pandemia de COVID-19 abriu uma oportunidade crítica para acelerar a mudança para modos de transportes sustentáveis com incentivos e planejamento urbano, como a ideia da cidade de 15 minutos. Reproduzimos aqui os pontos principais do artigo da C40 com ideias de estratégias para a migração urbana dos veículos particulares para o transporte público em escala.

Estratégia 1: Coleta de dados e metas

Como sempre no início é preciso compreender a situação atual. A partir desse diagnóstico será possível ter os primeiros vislumbres de potencial migração para outros modais. Medir os atuais modos de transporte e estabelecer metas realistas é crucial. Cidades como Londres e Buenos Aires já definiram metas ambiciosas para aumentar o uso de transportes sustentáveis. Metas ambiciosas e realistas são fatores-chave de sucesso.

Estratégia 2: Desencorajar o uso de carros

O uso do carro particular precisa ser paulatinamente desencorajado. Os melhores meios são tornar este modal mais caro (princípio do poluidor-pagador já consta na legislação brasileira) e mais inconveniente. Cidades como Londres e Estocolmo implementaram tarifas e restrições para tornar o uso de veículos particulares menos atraente. Oslo e Sevilha se utilizaram com sucesso de cobranças pelo uso do carro (como pedágios urbanos) e pela redução de disponibilidade de vagas em áreas-alvo.

Estratégia 3: Alternativas atraentes

As pessoas não deixarão de usar o automóvel se não houver alternativas atraentes. Ser apenas viável não é o suficiente. Prover alternativas eficientes e atraentes ao transporte particular é essencial para o sucesso de políticas públicas sustentáveis para os transportes urbanos. Isso inclui investimentos em infraestrutura e esquemas de incentivo, como o aluguel de bicicletas, por exemplo. As alternativas atraentes precisam ser reais e estarem disponíveis. Isso inclui inverter a priorização de vias para os modais a serem incentivados.

Estratégia 4: Implementar o Desenvolvimento Orientado ao Trânsito (TOD)

Com o passar do tempo, as cidades precisam perseguir um desenvolvimento urbano que permita acabar com a dependência do carro. Para uma mudança modal no longo prazo, as cidades devem adotar o TOD, concentrando o desenvolvimento urbano em torno de centros de transporte. As regras de quantitativos de vagas em empreendimentos devem mudar de “estacionamento mínimo” para “estacionamento máximo”. São Paulo e a Cidade do México já aboliram os mínimos de estacionamento nos empreendimentos novos. Curitiba é um caso de sucesso neste quesito, alcançou uma participação modal sustentável de mais de 49% devido em parte à implantação bem-sucedida de políticas da TOD que encorajam um desenvolvimento mais denso ao longo de uma rede de corretores de Transporte Rápido por Ônibus (BRT).

Estratégia 5: Ideia da Cidade de 15 Minutos

Este é um princípio de planejamento urbano que procura oferecer a todos as comodidades essenciais dentro de 15 minutos a pé ou de bicicleta de suas casas, e garantir acesso equitativo ao trânsito público para viagens mais longas, entre outras coisas. Já recebeu muitos nomes diferentes ao redor do mundo. Os principais exemplos incluem Barrios Vitales de Bogotá, Bairros Completos de Portland e Bairros de 20 Minutos de Melbourne, assim como a Cidade de 15 Minutos de Paris. Essa ideia tem captado a atenção internacional. Planejamento urbano que oferece comodidades essenciais a 15 minutos a pé ou de bicicleta pode reduzir viagens desnecessárias e apoiar o transporte sustentável.

Estratégia 6: Financiamento de mudanças modais

Grandes projetos de trânsito costumam ser caros e a amortização dos investimentos só acontece no longo prazo. Porém, existem também estratégias relativamente baratas que também podem ter um grande impacto nessa missão. Alguns exemplos são alterações na paisagem das ruas para caminhadas, priorização do ciclismo sobre o automóvel, faixas exclusivas para ônibus, e campanhas de conscientização, como os dias sem carros, por exemplo. Existem também políticas públicas que reforçam essa viabilidade, tais como a tarifação urbana por uso de automóveis, as quais geram novas receitas que podem ajudar a financiar esforços paralelos para promover opções sustentáveis de transporte.

Estratégia 7: promover escolhas de viagens sustentáveis por meio de marketing positivo e divulgação de histórias pessoais

Comunicação bem executada com a população promove benefícios do transporte sustentável e desafiam normas culturais negativas. Este é um passo essencial para mudar atitudes em relação ao transporte. Fatores culturais têm papel muito presente nas decisões individuais de transporte. Em especial no Brasil, a posse de automóveis é símbolo de status, enquanto o transporte público, a bicicleta ou a caminhada podem ter conotações sociais negativas. Com o tempo, essas normas sociais evoluirão, e os cidadãos começarão a ver seus conhecidos obtendo vantagens desses modos alternativos. Entretanto, as cidades também devem desafiar as normas sociais inúteis para acelerar este processo.

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Cidades sustentáveis cidades inteligentes

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