Olhando daqui de dezembro, este ano de 2022 parece ter sido longo demais, especialmente para o Brasil. Foi uma sequência de fatos e eventos que certamente terão consequências futuras contundentes. E parece que, ao viver mais um deles, há certa ofuscação ou efeito halo que nos dificulta uma visão panorâmica do que foram esses últimos 12 meses. Aqui, neste post, jaz um esforço contrário a essa tendência.
Logo em janeiro vivíamos uma rápida elevação da onda da variante ômicron da covid-19, e mais uma vez parecia que esse pesadelo estava longe de melhorar. Em seguida, a Rússia invade a Ucrânia, surpreendendo até as nações mais belicistas e imperialistas do globo. O preço do petróleo no mercado internacional dispara, agravando uma epidemia inflacionária que já se alastrava por todo o planeta.
Em resposta a esta última, o banco central dos Estados Unidos (Fed) eleva as metas de juros domésticos da maior economia do mundo, sem sinais de alívio até o final do ano. A consequência disso, de imediato, foi a depreciação de moedas de economias emergentes e dos países mais frágeis, construindo um cenário de tendência à recessão global que certamente não respeitará os limites de nosso calendário gregoriano.
Em nosso cantinho do planeta, vivenciamos as eleições mais polarizadas de nossa história, da qual tivemos a constatação da tendência política ao conservadorismo em nossas casas legislativas nacionais e a necessidade de definição do executivo entre as duas opções mais populistas e com programas de governo mais vagos e nebulosos entre todas as opções – prova disso foi a demora da equipe de transição em definir qual seria sua política econômica, cujos adiamentos na definição do nome do Ministro da Fazenda estressou os mercados muito além do necessário.
E fechamos o ano com uma Copa do Mundo excêntrica quanto à sua posição no calendário anual, para dizer o mínimo, adiando o período de retomada de todos os fatores de produção nacional em capacidade total para o início de 2023.
Não sou muito adepto de falar em primeira pessoa, mas creio que este ano me autoriza a lembrar que não me resignei nem desanimei frente a essas dificuldades, assim como tenho feito desde 9 de julho de 2009. Foram publicados aqui mais de um texto por semana, em média, e – o que é mais importante – prezando por um nível de qualidade que julgo ter conseguido atingir em boa parte da produção – torço para não estar equivocado quanto a isso.
Entre 4 de abril e 3 de outubro foi publicada uma série de textos sobre a história do Desenho Urbano que eu planejava escrever desde 2006 (na época, eu nem imaginava que seria num blog). Foi com muita satisfação que pude trazer, buscando ser objetivo, sucinto e abrangente em termos de manifestações e tendências urbanas, um resumo dos principais pontos de evolução do planejamento urbano, da cidade hipodâmica grega às cidades futurísticas distópicas, buscando referências em produções da literatura e do cinema contemporâneo.
Por fim, entre outubro e dezembro eu trouxe ainda outra rápida sucessão de textos sobre PPPs e concessões de serviços públicos, assunto este que venho abordando aqui desde 2019 e que certamente fará parte de nosso repertório de políticas urbanas para os anos vindouros.
Em suma, 2022 foi, na minha modesta opinião, um ano ainda a ser estudado, o qual merece uma necrópsia cuidadosa. Entender este ano, acredito, será essencial para nos orientar nos anos futuros em busca de iluminação, paz e maior coexistência pacífica entre diferenças crescentes, sejam elas religiosas, de estilos de vida, de comportamentos, de realidades, de preferências ou mesmo de simples localizações geográficas. Que venham os próximos anos, e que estejamos à altura dos desafios que trarão.
Com este texto me despeço de 2022, confiante em poder reencontrar você por aqui em janeiro, com votos de boas festas e uma grande virada para um futuro melhor. Seja lá o que isto significar. Que 2023 nos traga, a todas e todos, sabedoria para traduzir um futuro que certamente será, entre outras coisas, muito diferente de nosso passado recente.
Feliz Natal, e um lindo 2023 para você.
R.T.
Seu trabalho é inestimável, meu caro Ricardo. Espero que 2023 seja igualmente produtivo. Grande abraço
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Obrigado, Ênio!
Desejo o mesmo para sua incrível produção também.
Abraços!
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