Tentar adivinhar o futuro é uma forma muito eficaz de se frustrar. A única certeza que temos é que vamos errar. Erraremos por pouco ou por muito, mas sempre erraremos. Por outro lado, existem macrotendências bem estabelecidas que costumam se confirmar dentro de certa banda de variação – e essas previsões aproximadas, sim, tendem a se confirmar.
A questão habitacional em todo o planeta também apresenta algumas macrotendência bastante claras, e é muito provável que se confirmem em algum ponto no futuro, ainda que algumas estejam mais próximas e outras, mais distantes.

É muito provável que a diferenciação de públicos se reduza com a paulatina conquista de maior equidade social. Com isso, a categorização da habitação (social, de mercado popular, de luxo, etc.) tende a se aproximar umas das outras até que, em algum ponto, deixem de fazer sentido, ou seus limites de classificação se tornem muito nebulosos.
Essa tendência já vem ocorrendo ao longo da história, ainda que esse processo seja muito lento: os palácios de desproporcionais dimensões são cada vez mais raros, assim como qualquer tipo de habitação que não ofereça um mínimo de dignidade a seus moradores, ou que se assemelhem a senzalas, são e serão cada vez mais condenados pela sociedade. A busca pela universalização da moradia digna é cada vez mais consensual (ou deveria ser) entre os mais diversos setores sociais, assim como a crítica à estratificação de qualquer oferta à sociedade.
Também é outra tendência clara da habitação a absorção de tecnologias para sua estrutura inerente, tal como a internet das coisas (IoT), a conectividade global, assim como sua fusão com equipamentos de apoio à função humana habitar: o enriquecimento de ofertas de serviços e conexões em áreas comuns, coletivas ou públicas, a oferta de serviços on demand, e o compartilhamento de ativos, esses últimos cada vez mais presentes já nas funções de mobilidade urbana.
Falando em mobilidade, as novas gerações já deixam claro também sua rejeição à fixação territorial e ao que chama de incômodos da propriedade. Os nascidos no novo milênio preferem flexibilidade e mobilidade territorial – e isso necessariamente passa pela preferência pela locação e rejeição ao conceito de casa própria, tão caro às gerações anteriores.
Conceitos de sustentabilidade e de responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG) são cada vez mais fortes e prioritários na vida das pessoas, inclusive no Brasil. A consciência em busca da valorização de produção e comércio locais, que já vinha aumentando, ganhou muito mais peso durante a pandemia. Um bom exemplo é dado pela Luggo, que inclui a valorização de cervejarias locais em pontos de vendas de áreas comuns de seus empreendimentos. Reduzir deslocamentos de pessoas e mercadorias, valorização de retrofit e de desmontes responsáveis fazem parte dessa tendência, assim como qualquer outra questão que se alinhe com menores impactos socioambientais, menos emissões atmosféricas e menos consumo de tempo desnecessário, como nos deslocamentos intra-urbanos e inter-urbanos.
A diversidade é cada vez mais desejada, em todas as suas suas estéticas: seja na forma de mistura de rendas ou na mistura de usos num mesmo empreendimento (o que também reduz deslocamentos e enriquece a vida urbana). Por fim, fazem parte desse conjunto de direcionamentos as fachadas ativas (permeabilidade urbanas), e a concentração de densidades habitacionais próximas aos polos de transporte de alta capacidade, algo que já comparece em Planos Diretores de grandes cidades de referência, nacionais e internacionais.