Projeto de arquitetura: aula de método

Uma vez alguém escreveu em minha faculdade que aquele lugar era como criação extensiva de gado: solta o boi no pasto e o que voltar é lucro. Não questiono que o aprendizado de uma habilidade tácita como o projeto de arquitetura seja melhor aprendido com a prática – e quanto mais, melhor. O bom arquiteto costuma ter alta quilometragem de projetos. Mas nunca encontrei, durante a graduação, uma discussão sobre o método de projeto.

Foi apenas em 2003, durante o mestrado, que tive a oportunidade de observar uma aula do professor Joaquim Guedes sobre o assunto. O caso prático era o projeto para o concurso Bairro Novo da prefeitura de São Paulo para uma área de glebas quase vazias próximas à Marginal Tietê, ocorrido meses antes. Apresentando as propostas premiadas, o grupo de três professores (entre os quais estava o professor Adilson Macedo) teceu pertinentes críticas aos projetos. Apesar da ausência dos autores, dificilmente sairiam ilesos em suas defesas.

O passo seguinte foi colocar o problema em nossas mãos, e algumas semanas depois levamos nossas próprias propostas. Cada um com uma ideia diferente, cada um com sua visão e interpretação do problema, a tal riqueza e diversidade de projetos. Todos foram comentados, todos tinham pontos frágeis, difíceis de se defender. Todos eram facilmente criticáveis, isso é o mais importante aqui.

Foi então de Joaquim Guedes apresentou sua proposta de método. A ideia do professor não era partir em direção à solução como faríamos intuitivamente, e sim olharmos para o problema. Estudamos a fundo as condicionantes do projeto: o terreno, o entorno, o programa de necessidades, a proposta do edital. Enquanto trabalhávamos em diagnósticos, parecia que estávamos distantes de nossos projetos. Mas quando você olha muito para o problema, ele lhe aponta a solução. E elas começaram a vir, a princípio sutilmente, mas cada vez mais arrebatadoras. Este é um tipo interessante de solução de projeto, porque nasce de uma dialética do arquiteto com as questões de seu objeto de trabalho.

Desenvolvi então (assim como meus colegas) minha proposta a partir das soluções apontadas e evidenciadas pelo estudo da proposta do edital e do território. Quando chegamos ao dia da apresentação, cada um com sua proposta, tive uma visão inesquecível: cada projeto tinha os traços de seu autor, uma ou outra solução pessoal… mas em essência eram todos a mesma proposta, o mesmo projeto. Os professores não apontaram qualquer direção para nós, e todos caminhamos juntos, num mesmo sentido.

Quando nós, arquitetos, chegamos a este estágio, não temos dúvidas sobre nosso projeto – isso nos dá convicção na apresentação ao cliente. E ele saberá que você acredita em sua proposta. Além disso, cada traço no papel nasceu de um forte motivo, de um aspecto do problema colocado. Isso lhe dará todos os argumentos necessários à apresentação de sua ideia.

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