VI SBQP 2019: como foi

Olá, pessoal. Estou neste momento voltando para casa depois de três intensos dias de trabalho no VI Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído, realizado em Uberlândia entre 30/10 e 01/11 deste ano. Não sei mais dizer de quantos congressos e seminários já participei na vida, mas dois deles serão inesquecíveis: UPAV 2016 no Rio de Janeiro pela altíssima qualidade das discussões sobre aspectos macroeconômicos para o mercado imobiliário; e este SBQP pela altíssimo grau de profundidade e qualidade atingido nas discussões sobre a qualidade do projeto (seja em termos de project ou de design). Parabéns aos organizadores, foi fantástico. Uma honra para mim poder ter feito parte do evento.

Alguns pontos de destaque não posso deixar de comentar aqui. Um deles foi a atenção e preocupação (ainda que muito ainda haja a amadurecer) quanto à atividade profissional enquanto atividade econômica, assunto que muito me interessa, tema de um livro publicado e de minha tese de doutorado em construção neste momento.

Logo na manhã do primeiro dia tivemos os professores Márcio Minto (IAU-USP), Gil Barros (FAU-USP) e Paulo Andery (UFMG) numa única mesa colocando a realidade do mercado de trabalho e empreendedorismo em nossa área no primeiro plano do Simpósio. Na sequência, Luciano Margotto (República Arquitetura, FAU-USP) deixou com todas as letras: a imagem do arquiteto está mudando. De todas as possibilidades de atuação previstas na lei de criação do CAU, exploramos uma fatia muito pequena (também sou defensor dessa tese, diga-se de passagem). Enquanto isso, 85% das obras do país são realizadas sem um profissional da área envolvido em qualquer momento (pesquisa do CAU/BR). E não adianta acreditar que, num país onde a renda familiar de 5 mil reais por mês coloca uma família entre os 10% do topo da pirâmide social, 15% da população conseguiriam impor seus modelos aos demais 85% dos brasileiros. A se pensar para nossos próximos planos de negócios.

Obrigatório falar da palestra do professor Koen Steemers, de Cambridge, o que já fiz aqui imediatamente ao sair do auditório (veja o post à parte).

Outro ponto de destaque, apesar de não ser nenhuma novidade (e já termos abordado aqui no blog), foram as críticas ao Programa Minha Casa Minha Vida. Acho que não preciso me repetir aqui. Rapidamente, sem me aprofundar, as principais críticas (novamente) foram:

  • a orientação mercadológica dos empreendimentos sem preocupação com a qualidade urbana de inserção física ou social
  • a promoção do espraiaremos urbano e maior demanda por sistemas de infraestrutura e transporte públicos
  • consequente maior consumo de recursos naturais por ocupação de áreas verdes periféricas e consumo energético nos deslocamentos
  • o desprezo pelos centros urbanos decadentes, cheios de infraestrutura disponível, onde seria desejável o povoamento residencial e a mistura social
  • empreendimentos desacompanhados de equipamentos urbanos e sociais, criando novas demandas aos cofres públicos
  • alto custo do programa não resolveu nem diminuiu o déficit habitacional no país

E assim por diante, como já temos visto há um longo tempo. Uma bela exposição que merece destaque foi a de Pedro Corrêa, em busca de alternativas para ocupação de edifícios vazios nos centros, em especial com o aluguel social (ideia que aqui já defendemos com o Programa MAIS) e através de concessões, tal como é realizado em outros países e, aparentemente o atual governo federal pretende trazer para o Brasil. Isso tudo sem citar a experiência exitosa de PPP Habitacional em São Paulo na região da Luz.

por fim, para não me estender demais citando temas que você já deve saber que foram discutidos no evento, quero apenas ressaltar aqui um bloco muito interessante que apontou para o futuro tecnológico que nos aguarda, apresentado pelas professoras Mônica Salgado (UFRJ), Cláudia Naves (UnB) e Gabriela Celani (UNICAMP). Futuro, mas já presente, as três exposições demonstraram, de alguma forma, cada uma com uma vertente específica, que a realidade já é hi-tech e altamente informatizada, e que as maiores dificuldades podem estar em limitações culturais ou mesmo sociais de nossa parte para que o mundo da Quarta Revolução Industrial de fato tome a soberania deste pequeno planeta. Em especial, a professora Gabriela apresentou incríveis interações de seus alunos com desenvolvimento de soluções de fato inovadoras (respeitando o conceito que a mesma nos apresentou de inovação como a colocação em prática e implementação dos produtos da criatividade humana), e as fantásticas possibilidades que já existem, como uma fábrica de banheiros industrializados que oferece dezenas de possibilidades de arranjo a seus clientes.

Eu poderia me estender muito mais neste texto, foi realmente muita informação num curto espaço de tempo, com alta qualidade em qualquer sala que se entrasse. Realmente um SBQP memorável e difícil de superar. Agora ficou difícil para os organizadores do próximo (mas certamente eu gostaria de estar lá…).

Até a próxima!

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.