Depoimento à revista aU (texto integral): conflitos entre sócios em escritórios de arquitetura 

Esta é a íntegra de meu depoimento à revista aU de agosto de 2015 (matéria de Juliana Nakamura):

1) Quais são os principais motivos que levam a conflitos entre os sócios de um escritório?

Em geral, os arquitetos acreditam que a distribuição igualitária de participação na propriedade é o ideal – 50%/50%, 1/3 – 1/3 – 1/3, e assim por diante. Logo fica evidente que essas empresas são cachorros de muitos donos. Só funcionam se houver muita clareza nos papéis de cada um, o que é raro. E quando o cachorro passa fome, todos sofrem. A clareza de comunicação e definições é essencial, desde o início da sociedade. É necessário entender a participação acionária como um investimento, e não há nenhum problema em ser investidor minoritário. Mas fique claro: sócio de 1% não é sócio. Isso é simples burla fiscal e trabalhista. Distribuições 60%/40% ou 70%/30% costumam funcionar muito bem, os papéis acabam ficando mais claros mesmo quando sua formalização não ocorreu.
Outros conflitos importantes ocorrem no relacionamento. Os sócios têm uma profunda relação pessoal e financeira entre si, precisa haver muita confiança e não deixar que elementos externos à empresa interfiram no negócio. Sociedades entre parentes e cônjuges são muito complicadas por isso. Mesmo entre sócios com nenhuma relação de parentesco ou conjugal costuma (e é saudável que aconteça) surgir amizade entre si. E depois, amizade entre as famílias. É ótimo, mas os limites de interferência devem ser claros, e o maior papel do investidor deve ser o de protetor do investimento.

2) Que tipo de instrumento você acha importante para evitar conflitos que possam colocar em risco a sociedade?

Coloque sempre tudo no papel. Por mais que você converse com seu sócio, existem muitos filtros e ruídos na comunicação verbal. Quando vira um texto, o acordo fica claro – é por isso que existe a documentação física do contrato, que é nada mais que um acordo. É ideal planejar o papel de cada um até as últimas consequências, inclusive prevendo uma eventual dissolução da sociedade. Nossa cultura é de não falar sobre o fim de relacionamentos em seu início, mas recomendo fortemente que seja feito – poupa incertezas, reduz substancialmente a falta de comunicação (até porque, de certa forma, o que poderia haver de pior a combinar já foi combinado) e, em último caso, protege o relacionamento pessoal de um colapso contratual.

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