Responda rápido: quais montadoras de automóveis estão no Chile? Quais são as maiores cidades do Uruguai? Qual o produto mais representativo do PIB da Colômbia? Difícil, certo? A verdade é que conhecemos pouco de nossos vizinhos. Talvez seja mais fácil responder quais montadoras estão em Portugal, as maiores cidades do Japão e os produtos mais representativos do PIB italiano.
Trago o assunto porque acabo de concluir a leitura de um interessante trabalho nacional sobre negócios em nosso continente, o livro Empresas latino-americas: oportunidades e ameaças num mundo globalizado, do professor Paulo Feldmann. Estudar a América Latina é fascinante, principalmente porque fica evidente que somos muito parecidos mesmo sendo diferentes, compartilhamos raízes históricas e culturais muito semelhantes. Por consequência, a forma de pensar e administrar empresas por aqui também apresenta profundas semelhanças, associadas a nossas origens e processos de desenvolvimento. Estudar nossa história é o primeiro e fundamental passo para pavimentar nosso futuro, para um pensamento estratégico abrangente. O autor discorre sobre o management latino-americano e nossa cultura em geral com a autoridade de quem vivenciou seus problemas na prática, quando esteve à frente de grandes empresas brasileiras e multinacionais amplamente conhecidas. Ao mesmo tempo, mantém sempre a lucidez do Modelo Diamente de Michael Porter em vista. Os dados apresentados no livro não deixam dúvidas sobre nossa grande dependência de exportação de commodities e baixo investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, mas também mostram de onde vem esta configuração.
Diversas vezes ao longo do livro é mostrado o papel dos investimentos passados em P&D e seus importantes desdobramentos nos dias de hoje, como o sucesso da Embrapa em viabilizar a expansão da fronteira agrícola nacional e a magnitude dos investimentos em inovação realizados pela Petrobrás, por exemplo. Além disso, faz um importante alerta sobre o papel da biotecnologia e da floresta amazônica para nosso futuro. Vale a pena ler, principalmente se você for empresário ou executivo neste charmoso canto da Terra.
Tive a honra de ser aluno de Paulo Feldmann na FEA-USP, um professor que se distingue do modelo tradicional de professor de economia das organizações em pelo menos dois aspectos: o primeiro é o de trazer para a sala de aula sua vivência como executivo ou presidente de importantes empresas. A segunda é sua postura questionadora em relação à aula restrita à matemática, que nunca levam a assuntos essenciais, como a globalização, por exemplo.