Uma das formas (atualmente) mais utilizadas no mundo para controlar inflação é o chamado controle monetário, isto é, o governo controla a quantidade de moeda na economia. Mas como ele pode fazer isso? O governo não tira dinheiro de ninguém sem cobrar tributos, certo? Sim, está certo. Tirando a insanidade de Collor em 1990.
O governo controla a quantidade de moeda pelo próprio mercado. Imagine que existe muito dinheiro circulando por aí, procurando por oportunidades para se reproduzir. Os investidores comparam diferentes oportunidades avaliando principalmente o risco e o retorno de cada uma. Quando o governo quer tirar moeda da economia, oferece uma oportunidade de investimento (títulos do tesouro nacional), para a qual oferece uma determinada taxa de remuneração (no Brasil é a taxa Selic). Se esta taxa for muito alta, atrai muito dinheiro e tira moeda demais da economia, gera estagnação econômica e desemprego, além de atrair também capital estrangeiro e influenciar no câmbio. Se a taxa for muito baixa, ninguém vai comprar, e não atrairá moeda. Além disso, a taxa Selic é referência para todas as demais taxas da economia (justamente por ser a dos títulos públicos, teoricamente com risco zero). Se a taxa Selic cai, os juros de financiamento também caem, as famílias e empresas compram mais a prazo, a economia começa a girar mais rápido e com mais moeda. Isso dá impressão que o poder de compra se elevou, e os preços sobem. Ou seja, uma Selic mais baixa significa inflação mais alta.
O governo brasileiro age de forma não recomendável por interferir politicamente nesse equilíbrio delicado, porque políticos sempre vão querer baixar a taxa de juros – isso gera crescimento econômico e emprego em curto prazo, mas problemas inflacionários no longo prazo. Você já viu essa história antes! Tivemos um “milagre econômico” nos anos 1970 e a maior inflação do planeta nos anos 1980. Só para comparar, nos EUA o presidente Barack Obama foi criticado só por dizer o que ele gostaria que acontecesse com a taxa básica de juros deles (definida pelo Fed). Aqui, nossos governantes atuais e passados (todos eles) não tem pudores em pressionar publicamente o Copom para baixar a taxa Selic.
Mas por que mexer na poupança? O que ela tem a ver com isso? Lembre-se do dinheiro procurando oportunidades. Se a Selic está alta, ele vai para os títulos públicos e para o CDI. Se a Selic cai, ele procura por outras oportunidades. Uma delas são as ações de empresas brasileiras negociadas na Bovespa, o que é bom para a economia porque fortalece nosso país, gera emprego e renda e movimenta nosso mercado de capitais de forma a criar maiores oportunidades de investimento em empresas nacionais menores e com potencial de crescimento. Mas se a remuneração da poupança for maior que essas duas oportunidades, as pessoas guardam dinheiro nos bancos. Isso não financia o governo nem as empresas (exceto os próprios bancos). Se a remuneração da poupança não fosse alterada, a taxa Selic teria um “piso” definido por ela.
Isso não tinha sido sentido até hoje porque desde que esse modelo de remuneração foi instituído, estávamos ou sob intensa inflação, ou sob altas taxas de juros (para conter a inflação). Quando a Selic baixou a ponto de chegar perto da remuneração da poupança, isso ficou evidente.
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