E a história dos historiadores?

Excluindo nossos colegas que obtiveram informações nas pesquisas primárias em documentos e outros registros, todos (nós) os demais acumulam conhecimento por meio do que nos trazem os historiadores. E vamos, assim, conhecendo um a um, e tendo contato com diversas vertentes de interpretações dos fatos ocorridos. Eventualmente, conseguimos até deduzir algumas coisas sobre aqueles que nos dizem, o que nos ajuda a ponderar diversos paradigmas.

Mas não faltaria um prefácio para essas leituras, nos preparando para as características da lente por meio da qual vamos olhar o passado? Não seria interessante uma nota prévia, preferencialmente de alguém com visão distinta da trazida pelo autor, de forma a nos alertar para quais filtros ou ponderações deveríamos ativar ou não durante a leitura?

Recentemente, tive contato com um trabalho que muito contribui para mitigar este risco: o trabalho de Josep Maria Montaner sobre a crítica na arquitetura: Arquitetura e crítica. Este belo e objetivo trabalho traz pelo menos três capítulos que nos auxiliam muito na leitura de textos mais populares sobre a história da arquitetura. Auxiliam tanto que me instigam a voltar a muita coisa que já li e absorvi sem o cuidado de ponderar possíveis (ou inevitáveis) vícios de origem. Continuar lendo E a história dos historiadores?

A cidade da moradia moderna

A ascensão da cidade modernista foi acompanhada do direcionador de políticas públicas de produção de habitação salubre, com boas condições sanitárias, bem ventilada e iluminada. Era a reação natural de uma geração que conheceu as primeiras (e talvez mais graves) versões de insalubridade urbana nas cidades industriais repentinamente adensadas.

Aliado a este contexto, partidos políticos progressistas também ascenderam ao poder na Europa, trazendo um novo entendimento sobre a responsabilidade do Estado em promover a garantia à habitação saudável de forma democrática, visão esta que viria a ganhar ainda novo impulso a partir do keynesianismo na década de 1930. Após a Segunda Guerra Mundial, as necessidades de reconstrução, o adensamento das cidades e o baby boom concluíram a construção do contexto para a cidade da moradia moderna no século 20. Continuar lendo A cidade da moradia moderna

Técnicas retrospectivas de Leonardo Benevolo

Leonardo Benevolo é mais conhecido por seus grandes (em todos os sentidos) trabalhos historiográficos. Mas um dos mais influentes no ambiente de projeto do espaço construído é uma enxuta coletânea de artigos independentes, publicada no Brasil sob título A cidade e o arquiteto.

Apesar da publicação nacional datar de 2014, a maioria dos textos foi originalmente redigida nas décadas de 1970 e 1980, o que exige algum filtro crítico do leitor. Ainda assim, vale reproduzir aqui um dos trechos que mais influenciou aquilo que hoje se conhece como técnicas retrospectivas: Continuar lendo Técnicas retrospectivas de Leonardo Benevolo