Entrar na era BIM não significa apenas passar a utilizar um novo software no escritório. É muito mais do que isso, significa adentrar a um novo ecossistema de trabalho, posicionar sua empresa dentro de um novo ambiente de negócios, observar outras regras e padrões, mudar a forma de trabalhar e de se relacionar com outras partes (clientes, fornecedores, parceiros e poder público, principalmente).
Hoje trago aqui algumas telas interessantes publicadas pela Graphisoft no evento Building Together Collaborate de abril de 2024. Neste evento, a desenvolvedora do Archicad retomou alguns conceitos importantes para a inserção das empresas de projeto no mundo BIM. A palavra inserção parece ser a mais correta de fato, porque a empresa não passa a produzir em BIM, ela entra no ecossistema BIM. Em outras palavras, o escritório como um todo passa a trocar informações com o ambiente externo de forma padronizada por determinados requisitos (EIR), as informações do projeto passam a ser apresentadas dentro de um determinado conjunto de padrões (PIR), o ativo construído deverá apresentar determinadas características operacionais definidas (AIR), e o próprio escritório de projetos de arquitetura e engenharia também deverá comunicar suas próprias informações dentro de um conjunto padronizado de requisitos (OIR).

O BIM está muito mais próximo a padrões de gestão de todo o processo de desenvolvimento do projeto (project) que de uma gestão limitada apenas do projeto técnico (design). (Veja neste blog texto recente sobre a diferença entre ambos). Por ser uma ambientação padronizada de trabalho, as normas ISO específicas do BIM se enquadram dentro do contexto maior de normatização organizacional, tais como os conjuntos de normas internacionais de gestão organizacional (ISO 9000), gestão de ativos e projetos (ISO 55000 e ISO 21500). Neste contexto maior, a série de regras específicas ao nosso caso se inicia (pelo menos como recomendação de leitura) pela série ISO 19650.

A modelagem do projeto passa a ser colaborativa e o trabalho dos projetistas passam por ambientes comuns de dados (CDE) onde ocorre a integração entre os participantes e o desenvolvimento simultâneo de algumas soluções – o que também leva à verificação online de conflitos (crash detection). Existe muito mais energia empregada nas fases iniciais de desenvolvimento conceitual do projeto e nos instrumentos de gestão do processo. Mesmo quando projetistas de diferentes disciplinas trabalham em diferentes plataformas e ferramentas, o trabalho de cada um pode ser integrado com os demais em padrão internacional neutro (IFC) dentro do CDE, onde todos são integrados num mesmo modelo integrativo (modelo federado). Para que essa estrutura funcione bem, é necessário observar uma série de instrumentos de gestão de informações do projeto (PIM).
Já nas fases de projeto, por ser este uma construção virtual, aparecem informações operacionais do ativo resultante, as quais costumam ser de grande interesse do contratante do projeto e dos usuários finais do espaço construído. Para estes aspectos, existem também outros instrumentos específicos de gestão (AIM), os quais devem ser observados desde o início do desenvolvimento do projeto.

Toda a complexidade de encontros de todas as partes interessadas de um projeto (que costumam ser muitas) ficam evidentes e onipresentes nos ambientes BIM. Enquanto nas formas antigas de trabalhar esses encontros aconteciam em tempos e ambientes diferentes, no BIM eles acabam acontecendo de forma mais simultânea e num mesmo ambiente (CDE). Isso exige mais do gerente do projeto, em especial quanto às hierarquias e padrões de comunicação, aspecto importantíssimo que consome muito do gestor ao longo de todo o processo.

Por fim, os resultados precisam ser controlados e padronizados. Por um lado, o BIM facilita muito por dar incrível transparência e agilidade no acesso à informação. Por outro, os tempos se também se aceleram e os prazos encurtam, criando novos desafios de coordenação de desenvolvimento. Em suma, mudam muitos dos desafios de projeto, permanece a essência. E o BIM traz condições para que o projetista se concentre no que é mais importante e entregue mais valor e mais rapidamente ao cliente – mas isso depende da observância de uma série de padrões, procedimentos e regras. É um novo mundo de oportunidades, mas não deixa de ser um novo mundo num primeiro momento.

[GA] Esta marca sinaliza textos sobre Gestão Arquitetônica.
Saiba mais:
