Arquitetura orgânica e impacto ambiental

Robie House, de Frank Lloyd Wright - foto de Ricardo Trevisan
Robie House, de Frank Lloyd Wright, foto Ricardo Trevisan

Atualmente cresce a preocupação com questões ambientais enquanto condição de sobrevivência humana futura no planeta. Neste contexto, a utilização de materiais naturais nas construções é sempre vista com alguma dúvida ou desconfiança. Mas o quanto isso seria um problema? Uma construção em madeira é positiva ou negativa em termos de sustentabilidade?

Antes de responder a esse tipo de questionamento, é necessário compreender que a arquitetura orgânica é uma abordagem que prioriza a integração entre construções humanas e o ambiente natural que as cerca. Diferentemente do modernismo operacional, por exemplo, que muitas vezes parecem ser imposições sobre o ambiente, a arquitetura orgânica procura criar estruturas que se fundem com a paisagem, utilizando materiais naturais e formas que evocam elementos da natureza.

A arquitetura orgânica nasceu no final do século XIX e início do século XX, principalmente com os trabalhos e ideias de arquitetos como Frank Lloyd Wright, Antoni Gaudí e outros visionários que buscavam uma nova maneira de projetar edifícios que estivessem em sintonia com a natureza. Frank Lloyd Wright, em particular, foi um dos principais expoentes dessa escola de pensamento. Sua filosofia arquitetônica era centrada na ideia de que as construções deveriam surgir naturalmente do ambiente, em vez de dominá-lo ou competir com ele. Observe a atualidade de seu pensamento, significativamente vanguardista para um profissional cuja formação básica são de mais de 100 anos atrás.

Sobre o contexto de formação de Wright, particularmente simpatizo com a visão trazida no livro “Arquitetura e Crítica” de Josep Maria Montaner, o qual considera o trabalho desse arquiteto como “um caso totalmente singular e autônomo dentro do movimento moderno”. Considera assim tanto pelo aspecto vanguardista de anúncio da arquitetura moderna (e sua obra tão madura que imediatamente a coloca em crise) quanto por sua obra não seguir planejamentos internacionalistas, uma vez que estava muito mais comprometido com a sociedade estadunidense que com a pensamento centro-europeu da época.

Wright acreditava que os edifícios deveriam ser projetados levando em consideração os materiais locais disponíveis, o clima da região e a topografia do terreno. Essa abordagem não apenas resultava em estruturas visualmente impressionantes, mas também contribuía para a sustentabilidade ambiental. E é exatamente a busca pela arquitetura adequada a seu contexto que tem, atualmente, resultado em propostas de baixo impacto ambiental.

Ao incorporar elementos naturais e técnicas de construção preocupadas com o impacto ambiental, a arquitetura orgânica contribui com ideais de preservação. Materiais como madeira certificada (em especial de reflorestamento ou de manejo sustentável), pedra que exista em abundância na localidade e terra são frequentemente utilizados de forma sustentável, minimizando a pegada de carbono das construções.

Além disso, ao projetar edifícios que se integram ao ambiente natural, a arquitetura orgânica muitas vezes preserva ecossistemas locais e promove a biodiversidade. Vide a cidade de Medellín (Colômbia), que está conseguindo levar este entendimento a realizações em escala urbana.

Em um mundo cada vez mais preocupado com as mudanças climáticas e a sustentabilidade, a arquitetura orgânica representa uma abordagem promissora para o futuro da construção. Ao seguir princípios da harmonia com a natureza, os arquitetos podem criar espaços que não apenas são visualmente deslumbrantes, mas também ecologicamente responsáveis e culturalmente significativos. E que nada prejudicam (muito pelo contrário) a adoção de tecnologias mais avançadas.

Considerando que a construção civil é responsável por um terço de todas as emissões de carbono na atmosfera em todo o planeta, esse tipo de preocupação não é nem um pouco dispensável.

Leia também:

Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis

Arquitetura e crítica. Josep Maria Montaner

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