O tratamento contábil de ativos físicos pode ser incompatível com a contabilização dos ativos intangíveis, e isso nos afeta sobremaneira. Os ativos intangíveis são responsáveis por grande parte do valor de mercado das empresas, e se manifestam na forma de força da marca, tecnologia, profissionais de alta qualificação e conhecimento da força de trabalho, para elencar apenas alguns exemplos.
Os primeiros princípios da contabilidade sugerem uma regra simples para diferenciar despesas de capital (CAPEX) das despesas operacionais (OPEX): qualquer despesa cujos benefícios se prolongarão por muitos anos é despesa de capital (CAPEX). E qualquer despesa cujos benefícios se encerram durante o ano em curso, é despesa operacional (OPEX). [1]
Seguindo essa orientação, os contadores a aplicam a empresas industriais, classificando corretamente fábricas, equipamentos e prédios como despesas de capital (CAPEX), e as despesas com pessoal, matéria-prima e suprimentos como despesas operacionais (OPEX). Porém, os mesmos contadores tendem a ignorar a regra geratriz acima descrita quando se trata de empresa com parcela relevante de ativos intangíveis, e este grupo inclui as empresas farmacêuticas, empresas de alta tecnologia, produtoras de bens de consumo (extremamente dependentes de marca e propaganda), consultorias, empresas de advocacia, empresas de engenharia e empresas inovadoras (inclusive em design).
Baseados no argumento de que os benefícios dos ativos intangíveis são incertos, acabam por contabilizar essas despesas como operacionais. A consequência disso é que o lucro dessas empresas tendem a ser subestimados. Além de prejudicar a análise de indicadores de valor contábil, de lucro e de despesas de capital (CAPEX) nessas empresas, esse equívoco também leva a enganos quando comparadas a indicadores equivalentes de empresas industriais. Aliás, comparar empresas de inovação intelectual com manufatura industrial é um erro contra o qual não me canso de repetir.
Para corrigir essa distorção, Aswath Damodaran nos recomenda [3] corrigir a classificação contábil errônea das despesas de capital (CAPEX) e recalcular os inputs fundamentais de valor, como o lucro operacional antes das despesas financeiras (algo levemente diferente do EBITDA), CAPEX e retorno sobre o capital. Feitos esses ajustes, essas empresas ficam muito mais parecidas com as de outros setores para avaliação por múltiplos e para a sua gestão comparativa.
[1] DAMODARAN, Aswath. Valuation. Como avaliar empresas e escolher as melhores ações. Rio de Janeiro: LTC, 2019. p.184.
[2] Ibidem, p.185.
[3] Ibidem, p.186.
Saiba mais:
[GA] : esta marca sinaliza texto sobre Gestão Arquitetônica

