Já tangenciei aqui o novo papel que nosso campo recebe enquanto preparador de bancos de dados num contexto de tecnologia BIM. Porém, esse é um primeiro traço num universo muito mais profundo. O BIM não é uma categoria de software para modelagem tridimensional – apesar de basear suas informações em elementos geométricos espacialmente posicionados. É o resultado de um framework (modo de trabalhar) colaborativo, onde diferentes sistemas se integram num macrossistema de gestão de informações, normatizado pela ISO 19.650.
O que chamamos de BIM, uma forma de gestão da informação que Bilal Succar define como um conjunto de políticas, processos e tecnologia, faz parte de um ambiente de (1) gestão organizacional e (2) gestão de ativos, e exige dos profissionais envolvidos a compreensão do desenvolvimento do projeto no sentido de project, de empreendimento, muito além do projeto técnico de arquitetura (design).
O resultado desse arranjo será a necessidade cada vez maior de assimilação, por parte dos arquitetos, de modelos mentais integrados e amplos, incluindo alguns conhecimentos aos quais não estamos tão habituados. Um deles é o entendimento de que o desenvolvimento do projeto de arquitetura, em suas diversas fases, faz parte de um fluxo, o qual parte de um estudo de caso de negócio, segue para um plano de negócios que (caso seja aprovado) se concretiza na execução (ou recuperação) de um novo ativo, e inclui toda a sua vida útil, ou seja, as fases de operação e manutenção e o momento em que será necessário decidir entre sua demolição/desmontagem ou renovação para um novo ativo com todas essas fases novamente.
Os arquitetos precisarão estar mais próximos dos conceitos de estudo de viabilidade do empreendimento de forma ampla – e não apenas técnica quando aos elementos tangíveis, físicos. A partir de agora, vai ficar mais claro (espero) o motivo de eu ter falado tantas vezes aqui sobre o custo de capital do empreendedor (WACC), a conceituação de investimento em capital fixo instalado (CAPEX) e os custos operacionais desse ativo durante todo o seu ciclo de vida após a entrega da obra (OPEX). Precisaremos aprender o raciocínio do empreendedor ou proprietário para poder dialogar adequadamente sobre a criação daquele ativo no longo prazo.
As estimativas de custos preliminares nunca foram suficientes para uma tomada de decisão adequada, e a partir de agora isso se torna muito evidente. A cada decisão de projeto, o cliente provavelmente estabelecerá, num futuro próximo, requisitos de informações de impacto financeiro no custo total de propriedade daquele ativo. Esse tipo de requerimento fará parte do próprio sistema em que o arquiteto se insere, e a demanda não virá apenas do cliente final, mas também de outros profissionais envolvidos no processo, como analistas de modelagem econômico-financeira (MEF).
Essa constelação de necessidade sempre existiu, mas a partir de agora fica muito transparente a todos os envolvidos. O próprio Governo Federal já percebeu isso, e estabeleceu marcos de elevação de exigências BIM em suas contratações.
[GA] : esta marca sinaliza texto sobre Gestão Arquitetônica.
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