O que faltou perguntar sobre a Tabela de Honorários do CAU

O CAU/BR divulgou anteontem (22/08/2022) os resultados da pesquisa realizada entre profissionais sobre a Tabela de Honorários. Diversas evidências apontam para um desalinhamento entre a realidade de mercado e as recomendações de precificação do projeto de arquitetura do CAU, portanto a pesquisa é mais que bem-vinda e justificada.

Algumas dessas evidências eu tive inclusive a oportunidade de apresentar com a publicação de artigo científico sobre o assunto em parceria com professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Entretanto, alguns aspectos da pesquisa são preocupantes quanto aos encaminhamentos que provavelmente gerarão. Apresentarei aqui apenas dois deles.

O primeiro diz respeito à continuidade de interpretação do preço de prestação de serviços de alta carga intelectual associada aos custos e despesas de sua execução. Esse tipo de associação não existe mais de forma tão direta nem na indústria de bens de consumo de massa, portanto muito menos deveria estar presente na precificação dos serviços prestados por profissionais da arquitetura e urbanismo.

A base de construção do preço do projeto de arquitetura e urbanismo deveria estar muito mais próxima à observação do valor percebido pelo cliente (algo difícil, o que me leva ao segundo ponto) que do custeio do escritório ou da obra. Questionar sobre o cálculo com base no metro quadrado ou nas horas técnicas é válido, desde que o encaminhamento dado pelo CAU não pare por aí.

A segunda preocupação vem de um conjunto de perguntas da pesquisa sobre a dificuldade de se encontrar e, principalmente, de se calcular e definir preços. Precificação não é assunto simples, tratá-lo como tal pode levar a graves distorções que invariavelmente levariam a prejuízos a colegas de profissão – seja pela cobrança muito reduzida de honorários ou pela perda de oportunidades de trabalho (ou a ambas).

A prestação de serviços intelectuais está aliada à subjetividade da atribuição de valor pelo cliente. Se nem refrigerante tem mais preços simplificados e massificados, muito menos deveria ser a Tabela de Honorários do CAU. Creio ser importante a divulgação dessa mensagem para que não caiamos na armadilha de supor que a precificação seja uma questão simples ou lateral à atuação profissional em arquitetura e urbanismo.

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