Da oferta ao mercado em escritórios de arquitetura [e]

Se você imagina que a maioria dos escritórios de arquitetura oferece ao mercado como serviço principal o projeto de arquitetura de edificações, errou. Por pouco, mas errou. Pelo menos é o que aponta um levantamento feito com mais de 400 escritórios com sede no município de São Paulo, realizado através do Programa de Pós-graduação da FAU-USP entre 2018 e 2020.

De 403 escritórios observados, mais de 13% já não têm mais os serviços tradicionais de projeto (arquitetura de edificações ou de interiores) como ofertam principal ao seu mercado. Está assim colocado porque parece ser uma tendência: esses 13% são basicamente compostos por escritórios jovens ou recém-criados, enquanto os escritórios mais antigos estão quase todos nos demais 87%.

Por outro lado, atividades pouco associadas à atividade profissional do arquiteto pelos meios de divulgação (incluindo aqui a imprensa técnica especializada e os órgãos de classe) já ganham proeminência. O terceiro tipo de serviço mais ofertado pelos escritórios faz parte desse novo grupo: atividades de consultoria.

Ressalva importante: observe que estou aqui falando de serviço principal de oferta ao mercado. Não significa que o escritório tradicional do grupo majoritário não oferte serviços de consultoria a seus clientes, tampouco que os novos focados em uma imagem de consultor também não façam projetos.

O que importa aqui é o indício de como o escritório: (a) quer ser visto pelo mercado, que tipo de valor oferece a seus clientes, e (b) como constrói valor e captura retorno a partir de seu modelo de negócios.

Outra descoberta relevante foi termos encontrado quatro escritórios de arquitetura (1% do total) que deixam muito claro não fazerem qualquer tipo de projeto, de qualquer natureza. E isso não os impede de se apresentar ao mercado como “escritório de arquitetura”. Novamente, esse grupo também é composto unicamente por escritórios relativamente jovens ou recém-criados, apontando para uma tendência de transformações no setor.

As proporções encontradas foram as seguintes (esses dados já foram publicados anteriormente como artigo científico) [1]:

a)  Projeto de arquitetura: 197 (48,9%)
b)  Arquitetura de interiores: 151 (37,5%)
c)  Consultoria: 18 (4,5%)
d)  Paisagismo: 12 (3,0%)
e)  Obras: 11 (2,7%)
f)  Projetos urbanos: 3 (0,7%)
g)  Plano Diretor: 3 (0,7%)
h)  Restauro: 3 (0,7%)
i)  Gerenciamento: 3 (0,7%)
j)  Estudo de Viabilidade: 2 (0,5%)
 

A observação desses dados é uma excelente provocação aos arquitetos que pretendem empreender. Existem dezenas de atividades técnicas regulamentadas ao alcance de qualquer arquiteto e urbanista graduado, sem dizer na infinidade de outras atividades econômicas potenciais limitadas apenas pela imaginação do ofertante frente a seu mercado.

Por que deveríamos competidor todos num oceano vermelho por apenas uma ou duas delas? Não faz sentido. Fica a provocação.

Até a próxima!

[1] TREVISAN, Ricardo M.; BARROS, Gil G.; ONO, Rosaria. Segmentação na atuação das empresas de Arquitetura no município de São Paulo. Anais… Uberlândia: PPGAU/FAU/FAUeD/UFU, 2019.

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