Hoje continuamos a falar de planejamento e gestão de escritórios de arquitetura e urbanismo. Como já começamos a comentar aqui, essa série de textos é decorrente de uma pesquisa que realizamos entre 2018 e 2020 no âmbito do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU-USP. Durante a pesquisa, entrevistamos em profundidade 7 arquitetos titulares, e levantamos dados de outros mais de 400 escritórios com confirmação de informações. Além disso, levantamos um banco de dados bruto (sem dados confirmados) de mais de 550 escritórios de arquitetura e urbanismo.
O que nos mais importa destacar nesse momento inicial de debates é a forma como os titulares enxergam seus próprios escritórios, e isso decorre, em muito, de uma cultura geral de multiplicidade de possibilidades de atuação profissional advinda de nossas raízes, desde a idealização da profissão no mundo ocidental, passando pelos discursos predominantes, formação acadêmica, imprensa especializada e órgãos de classe.
O fato importante, que parece natural para os arquitetos (mas é absolutamente preocupante do ponto de vista da Administração das Organizações) é que os titulares vêm seus escritórios como generalistas, em busca do atendimento massificado ao maior número possível de segmentos de clientes. Isso preocupa porque dificulta muito qualquer tipo de plano de negócios mais objetivo, enfraquece a marca do escritório por não se aderir a nenhum setor (quem quer todos, não tem nenhum), gera desânimo nas equipes internas quando essas não percebem nenhum direcionamento claro da organização, e não permitiria benefícios de economias de escala e de escopo.
Mais que isso: quando aprofundamos um pouco a conversa com os líderes dos escritórios, percebemos que a atuação generalista e em massa não passa do discurso: de forma geral, os escritórios acabam se concentrando em dois ou três segmentos muito específicos. Além disso, quanto mais setores atendidos, o escritório parece enfrentar mais dificuldades.
A narrativa dos escritórios é recorrente. Grande parte começou divulgando a marca para todos os públicos e, quando capta contrato de um setor, acaba se especializando nele de forma involuntária. Muitas vezes, os sócios titulares fundadores se dedicam ao setor por toda a vida, constroem uma vida sobre esse nicho identificado – até aqui, nenhum problema, desde que seja uma escolha consciente. O que preocupa é ver esses mesmos escritórios mantendo o discurso de que sua atuação é ampla e não segmentada. Isso dificulta qualquer tipo de planejamento e gestão, afasta potenciais clientes do nicho e aumenta a rotatividade de equipes internas.
Esse é o primeiro e um dos mais importantes pontos a vencer nessa construção de um ambiente de empreendedorismo e atuação profissional mais tranquila. Por isso começamos por aqui.
Como já dissemos antes, a ideia aqui é abrir o debate. Fique à vontade para comentar e colocar seu ponto de vista. Precisamos caminhar juntos, pois estamos num caminho longo e difícil. Mas nada impossível. Temos que nos fortalecer mutuamente. Conte comigo nesta jornada.
Até a próxima!
[e] Textos com esta marcação tratam do assunto empreendedorismo.
As suas publicações são um oásis de qualidade e bom senso nesse deserto de platitudes e superficialidades no que se transformou a discussão sobre Administração e Gestão de Escritórios de Arquitetura e Engenharia no Brasil. Obrigado por isso.
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Olá, Ênio!
Eu que agradeço o apoio e incentivo. Estamos só começando, companheiro. Seguimos juntos nessa jornada.
Abraços,
RT
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