Diversos autores [1] reforçam que a Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (Redesist) define os arranjos produtivos locais (APL) como um conjunto de agentes econômicos, políticos e sociais localizados no mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que apresentam vínculos expressivos de produção, interação, cooperação e aprendizagem. (Definição de 2004)
O APL é conformado por atores distintos, como os:
- Atores econômicos: clientes, parceiros, competidores, fornecedores
- Atores do conhecimento: consultores, universidades, institutos de pesquisa
- Atores de regulação: órgão gestor do APL, governo em seus diversos níveis
- Atores sociais: sindicatos, associações empresariais, organizações de suporte, terceiro setor
A grande vantagem do APL é a sinergia promovida pela proximidade geográfica entre esses atores, especialmente quanto a conhecimento, regulação nas relações entre os atores, e sistemas institucionais voltados aos interesses e às necessidades das atividades desenvolvidas na região.
Essa proximidade tem a nada desprezível capacidade de multiplicar a competitividade das estruturas produtivas locais, algumas vezes em níveis globais, como bem identificado por Michael Porter, da Harvard Business School, numa pesquisa encomendada pelo então presidente Ronald Reagan [2]. Por este motivo, a premissa básica de configuração de um APL é a aglomeração. Portanto, a condição para sua existência é a presença de um número significativo de empresas em torno de uma mesma atividade produtiva. Um bom exemplo é a cadeia de plásticos em Santo André/Mauá – SP, cidades localizadas no topo do planalto paulista, onde desembocam as linhas de oleodutos provenientes de Santos, com a presença de inúmeras empresas que vão desde as refinaras de petróleo até as indústrias de utilização final de embalagens plásticas, quase todas localizadas ao longo do Eixo Tamanduatehy.
Para que o APL funcione bem, essas empresas precisam, além de estar fisicamente próximas, devem ser correlatas e complementares, como fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços e consultoria, comercializadoras, clientes, etc. Ou seja, precisam compartilhar a identidade local e o vínculo com uma mesma rede produtiva.
Dentro dessas características, os APLs existem numa infinidade de variações possíveis. Um exemplo são as variedades entre APL vertical ou horizontal. A aglomeração vertical tem o poder de concentrar um espectro maior (maior número de elos) da cadeia, conformando uma estrutura mais complexa e completa. Um APL horizontal concentra empresas localizadas num mesmo elo da cadeia produtiva, portanto pode apresentar dependência estratégica de outros elos que não estão presentes naquela localidade.
Outra variação possível é quanto à forma (também chamada de modalidade). As mais comuns são:
- Arranjos geográficos casuais de empresas: ocasionais elos entre empresas, pouca ou nenhuma experiência de cooperação, instituições locais pouco desenvolvidas ou inexistentes;
- Distritos industriais marshallianos (italianos): transações entre empresas mais fluidas, práticas de cooperação mais robustas, presença de instituições locais mais desenvolvidas e efetivas, economias de escala no âmbito do distrito, potenciais dados pela substancial especialização dos empreendimentos, profunda integração entre atividades econômicas e tecido sociocultural local;
- Redes de empreendimentos com alguma liderança: pode ser em forma centro-radial, líder-seguidor, ou plataforma-satélite, esta última com o líder fornecendo serviços estratégicos.
[1] SIMONETTI, E. R. S.; KAMIMURA, Q. P. As políticas públicas direcionadas ao desenvolvimento de arranjos produtivos locais. In: OLIVEIRA, C. W. A.; COSTA, J. A. V.; FIGUEIREDO, G. M.; MORAES, A. R.; CARNEIRO, R. B.; SILVA, I. B. (org.). Arranjos produtivos locais e desenvolvimento. 304 p. Rio de Janeiro: IPEA, 2017.
[2] PORTER, M. A vantagem competitiva das nações. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
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