A revolução do BIM está, aos poucos, trazendo um novo papel aos escritórios de arquitetura: o de estruturador de bancos de dados. Para entender como isso está acontecendo, é necessário fazer uma rápida contextualização: o BIM, ao contrário do que vinha ocorrendo com as (honrosas) tentativas de parametrização dos sistemas CAD, conseguiu efetivamente popularizar um sistema geométrico baseado em bancos de dados. Sim, é disso que estamos falando, porque a parametrização do BIM nada mais é que um banco de dados combinado com a apresentação, edição, ensaios e análises tridimensionais cada vez mais intuitivas em ambiente virtual (pelo menos num primeiro momento).
No mundo real, isso tem se apresentado cada vez mais como uma construção inicial de bancos de dados a quem fará a gestão de operação e manutenção desse constructo tridimensional – e essa sempre foi a ideia, desde o início. O gestor, que tradicionalmente faria um controle próprio a partir de um diagnóstico do ativo, passa a receber o banco de dados inicial de um projeto executivo que também adquire novo significado. E isso se processo nos diferentes níveis dimensionais do BIM:
- 2D: a que conhecemos desde as proposições geométricas euclidianas, aperfeiçoadas no renascimento por Galileu Galilei: plantas, cortes, fachadas, detalhes, etc.
- 3D: a automatização do objeto tridimensional a partir da idealização bidimensional tradicional, o primeiro salto de produtividade do escritório de arquitetura percebido a partir das modelagens paramétricas de elementos: paredes, portas, janelas, telhado, escada, etc. Importante ressaltar que não se limita a imagens de visualização, são constructos virtuais inteligentes, a partir do qual se extrai a qualquer momento novas plantas em diferentes níveis ou cortes imediatos do projeto. Além disso, todas essas novas peças bidimensionais geradas são atualizadas automativadamente a partir do modelo.
- 4D: o planejamento da obra com a inserção da variável tempo. Isso leva ao segundo ganho de produtividade do escritório, que se prepara para a gestão, acompanhamento ou assessoramento técnico à execução da obra. Mas, como veremos em outros momentos, discordarei de algumas afirmações sobre a possibilidade do BIM trazer maior previsibilidade aos cronogramas – como diria Nassim Taleb, esse é um comportamento fragilista.
- 5D: inclusão da dimensão custeio. Uso este termo para ser coerente com a contabilidade de custos ao incluir também as despesas e os custos, conceitos esses diferentes entre si. A facilitação do orçamento nesta dimensão começa a extrapolar a dimensão do planejamento da obra e passa a incluir também um primeiro referencial ao gestor operacional do ativo resultante.
- 6D: aqui a dimensão é explicitamente o gerenciamento das instalações. Momentos, controles, eficientização, responsabilidade socioambiental são variáveis contidas nesta dimensão, porém ainda restrita às instalações e sistemas relacionados no edifício.
- 7D: gestão e manutenção em si, acomodando os dados de operação e manutenção (O&M) do ativo, incluindo manuais e procedimentos-padrão, especificações técnicas, informações sobre garantias, etc.
Além dessas, há proposições de outras dimensões que não citarei aqui por não estarem ainda plenamente consolidadas. Mas já deu para perceber que o BIM traz possibilidades de oferta de novos serviços ao mercado pelo escritório de arquitetura, o que nos leva ao ponto central do Modelo de Negócios de qualquer empresa: o valor.
Mas este já é outro assunto. Voltaremos a ele no futuro.
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[GA] : sinaliza texto da série Gestão Arquitetônica.
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