De quê o governo tem medo?

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Quando Paul Volcker emplacou com sucesso a cartilha do controle monetário no Fed, no início da década de 1980, estabeleceu um novo padrão mundial de responsabilidade fiscal e monetária. Estímulos monetários sem limites à economia, como, por exemplo, a emissão monetária pulverizada que levou à crise do Encilhamento brasileiro (1889-1891), foram riscados da caixa de ferramentas dos governos centrais em todo o planeta.

A consequência disso é que os tesouros nacionais se utilizam atualmente da negociação de títulos públicos em mercado aberto (open market) para diversas finalidades. As duas principais são:

  1. Controle monetário da economia em tempo real, regulando assim a taxa de juro básica da economia via controle de volume de moeda em mercado aberto;
  2. Financiamento do tesouro nacional via mercado de capitais pulverizado, preferencialmente alongando a dívida pública.

Observe que o segundo item cria uma espécie de “alavancagem financeira” do governo central. Ou seja, acaba funcionando como algo similar à operação dos investimentos públicos com a participação de capital de terceiros (os investidores em títulos públicos).

Esse aspecto, isoladamente, se assemelha à operação de empreendimentos privados. E o maior risco ao empreendedor alavancado é a exigência antecipada de retorno do principal (esse tipo de cláusula covenant existe em project finance, por exemplo). Numa crise, situação em que o empreendimento gera menos caixa, pode haver a desconfiança do credor e o acionamento desse tipo de cláusula, agravando ainda mais a liquidez da operação como um todo e colocando todo o negócio em risco.

Quando o governo se utiliza do capital de terceiros de forma pulverizada, algo semelhante pode ocorrer: a desconfiança do investidor na macroeconomia do país pode levar a uma corrida pela liquidação de títulos. Se isso acontecer, a situação de penúria fiscal do tesouro nacional pode vir a ser agravada pela exigência líquida do mercado aberto. Isso acontece se não for possível fazer a colocação de novos títulos no mercado de forma a compensar a exigência monetária dos investidores liquidantes de títulos.

Para conseguir recolocar novos títulos num cenário de desconfiança, o emissor (governo) precisa oferecer maior prêmio por esse risco. Essa é uma das formas de ver a elevação da taxa básica de juro (Taxa SELIC no Brasil). Isso aumenta o custo financeiro da rolagem da dívida, aumentando o comprometimento do tesouro nacional com o serviço da dívida.

E se, ainda assim, o mercado não aceitar o risco, o governo terá dificuldades para se financiar. Isso significa que ficará de mãos atadas e não conseguirá executar suas políticas de investimentos até que o cenário macroeconômico melhore e o investidor volte a acreditar na economia nacional.

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