Importantes revoluções costumam ser precedidas de curtos lapsos de saudosismos. Que o digam os revivalismos, a exemplo do neoclassicismo do final do século XIX. O ser humano, frente à mudança iminente que o jogará em algum cenário desconhecido, parece dar aquele “último adeus” a uma época que vai embora. Claro, pois frente às incertezas de um novo mundo que se prenuncia, o passado é sempre um porto seguro, um ambiente controlado, onde não há mais espaços para surpresas desagradáveis. Daí vem o incrível apelo comercial da nostalgia. É mais fácil vender a garantia de um futuro que já se concretizou.
Aparentemente, estamos num desses momentos. Ideias e conceitos antigos e ultrapassados, vários deles longe de terem sido bons em algum momento, circulam com grande intensidade, como tantas vezes ocorreu na história. O velho faz representantes, engata alguma ação, mas logo fica evidente a sua obsolescência. Por mais que se relute em abrir espaço para o inexorável, sabemos que ocorrerá. Enquanto isso, somos obrigados a um interlúdio de nostalgia do que nunca funcionou.
Paciência. Não há outra saída imediata.
De repente, estaremos do outro lado, convivendo com o novo. Daqui a pouco, comportamentos anteriores serão esquecidos, e nem nos lembraremos mais de suas razões – e provavelmente há pouca, ou nenhuma razão, neles.
Que o digam as indústrias de chapéus ou as tabacarias de rua, só para citar dois exemplos. Observe que estamos falando de comportamentos humanos, não de tecnologia. São mudanças sociais, provocadas e sentidas por grandes grupos humanos. Não é a mudança tecnológica per se, até porque essas costumam ocorrer antes, e o elemento humano a ela se adapta depois. A questão atual não foge a esta regra, ainda convivemos com modelos sociais obsoletos, mesmo tendo tecnologia mais que suficiente para novos modelos literalmente às mãos.
Agora, chegamos ao ponto em que o revivalismo já ficou incômodo, fica cada vez mais evidente que está desajustado, que não vai mais servir daqui para a frente. Já estamos na fase da despedida, que talvez tenha sido acelerada por um evento de proporções globais – como recorrentemente tem ocorrido, a cada ciclo de algumas décadas, desde a Queda da Bastilha, em 1789. E, respeitando a lei descoberta por Schumpeter, em ciclos cada vez mais curtos.
Ou seja, a virada está próxima. E, como tirar um espinho da pele, que seja rápida, já que o alívio é quase imediato. E, no momento seguinte, já nem nos lembraremos mais do espinho.
Espinho? Que espinho?