Cidades são planejadas e executadas em prazos longos. O normal é realizar projetos urbanos em pelo menos um ano de maturação (e isso para um projeto pequeno). Portanto, qualquer projeto um pouco mais relevante, que realmente seja sentido por uma parcela notável da população, como o redesenho de um trecho urbano, levará vários anos desde sua concepção inicial até seus efeitos serem sentidos pela população, passando pela ineficiência, burocracia e inchaço do governo brasileiro, pela estruturação de um “apadrinhamento” político interno do executivo, o convencimento (e articulação política) do legislativo, o aval do chefe do executivo e, finalmente, a destinação de verbas para sua real concretização.
Ou seja, os prazos de realização de efetivos benefícios, no caso das cidades, não correspondem aos prazos dos interesses políticos de nossos governantes. Não se realiza quase nada em quatro anos, e muito pouco em oito. E, não, a solução não é ampliar os mandatos deles. A solução passa pela cobrança, por parte da sociedade civil da continuidade dos bons projetos que existem ou existiram.
Pegarei dois exemplos de projetos da prefeitura de São Paulo, aliás dois projetos que gosto muito. Propositadamente pegarei marcas de administrações de dois partidos políticos diferentes, para evidenciar que não tenho simpatia alguma por nenhum deles.
O primeiro é o Projeto Morar no Centro, uma iniciativa da prefeitura de São Paulo para levar o uso residencial à região central da cidade, incentivando a vitalização da área fora de horários comerciais e de dias úteis. O projeto incluía a recuperação de edifícios desocupados e casava isso com programas habitacionais interessantes. Mas não existe mais. Por que? Porque a população não pressionou suficientemente por sua continuidade. Movimento habitacional sozinho não faz verão, precisa da ajuda de quem pressiona por amor à cidade, não apenas por interesse próprio.
O segundo é a Lei Cidade Limpa, que efetivamente limpou a cidade dos abusivos anúncios publicitários que alteravam e poluíam o espaço visual urbano de forma desproporcional. Foi uma lei corajosa porque enfrentou interesses poderosos e lidou com um assunto que o cidadão acha que tem pouco efeito sobre sua vida. Mas o paulistano compreendeu seus benefícios, e percebe melhor ainda o ganho quando tem que visitar as cidades vizinhas, onde a lei ainda não chegou. Mas sua continuidade, principalmente numa eventual reviravolta política em 2012, depende da pressão popular para que os prazos políticos não continuem estragando os prazos dos projetos urbanos.