A estrutura do mercado profissional [GA]

ferrovia e as concessões de infraestrutura

Hoje continuamos o assunto dos posts anteriores sobre mercados profissionais abordando a estrutura desse tipo de mercado, a qual surge de forma singular: nem todas as pessoas valorizam da mesma forma o capital simbólico, e obter um diploma em determinado campo cultural é um objetivo vantajoso para uns, mas não para outros.

As pessoas perseguem estratégias que acreditam que lhe retornarão rendimentos mais elevados, sejam simbólicos ou econômicos. Todas as decisões a respeito de campo profissional são tomadas em função de como percebem suas chances de sucesso, assim definido o atingimento de acúmulo de capital simbólico, econômico, geração de externalidades externas positivas ou simples satisfação pessoal. Isso significa que tentamos realizar o que acreditamos ser possível, e nos excluímos das áreas nas quais acreditamos que não seremos bem-sucedidos. Ou seja, na estrutura de competição profissional, os menos favorecidos se eliminam voluntariamente, por si próprios, dos campos dominados por outros grupos.

Quando um grupo de pessoas diz “isso não é para mim”, promovem um movimento de exclusão muito mais eficaz do que seria possível por qualquer meio econômico. Isso constrói uma estrutura de mercado onde existem grupos de pessoas que ocupam posições similares no espaço social e assim se reconhecem. Esses grupos são, na classificação bourdiana, as classes. Sabendo que aqueles que possuem mais podem avançar mais seus interesses do que aqueles que possuem menos, podemos entender que o espaço de competição se subdivide em classes dominantes e subordinadas, em três categorias diferentes:

  • Classe subordinada: formada pelas pessoas que possuem pouco das duas formas de capital (econômico e simbólico);
  • Classe dominante: em última instância, o capital econômico domina o capital cultural, de forma que os detentores do primeiro tipo de capital são dominantes de toda a estrutura;
  • Fração subordinada da classe dominante: constituída por aqueles com mais capital cultural (profissionais, artistas e intelectuais de destaque).

Enquanto a classe dominante domina a produção de bens materiais, a fração subordinada da classe dominante é responsável pela produção de artefatos simbólicos.

Cada pessoa (ou profissional) não é completamente definida por sua posição atual nessa estrutura, mas carrega consigo a história de seu grupo em seu habitus, de forma que essa pessoa se engaja ou não em práticas a depender de suas posições passadas. Se movimentar dentro dessa estrutura é possível, apesar de não ser fácil, justamente porque envolve mudanças culturais da pessoa, algo muito arraigado à formação de seus modelos mentais. Com muita determinação e esforço, essas mudanças podem levar muito tempo para serem conseguidas.

Essa estrutura também permite que um pequeno, controlado e suficiente número de pessoas (miraculés) migrem rapidamente dos grupos mais baixos para os mais elevados, de forma que possam ser usados como evidência de que espaço de competição seja, de fato, meritocrático.

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Saiba mais:

Introdução à administração do escritório de arquitetura Segunda Edição

Gestão do escritório de arquitetura - capa do livro

A principal referência utilizada foi o livro O círculo privilegiado, de Garry Stevens, publicação da UnB, 2003.

[GA] : Esta marca sinaliza textos sobre o tema gestão arquitetônica.

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