Este texto dá continuidade aos anteriores sobre a concorrência em mercados profissionais, hoje tratando sobre o espaço de mercado no qual os grupos competem entre si em prol de seus próprios interesses. Nesse jogo, alguns grupos são mais bem-sucedidos que outros, controlam mais recursos. Este é o ponto de partida para esse tipo de análise: o reconhecimento da existência de grupos dominantes e subordinados.
Adotaremos aqui a definição bourdiana para poder: a capacidade de impor uma definição específica da realidade que seja desvantajosa para outros. O poder mais óbvio é a força física, mas é pouco usada na disputa entre grupos inclusive por ser ineficiente. Assim, esse tipo de poder é delegado ao Estado. Um segundo tipo de poder é o econômico, com suas estruturas igualmente óbvias.
Entretanto, existe uma terceira forma de poder, desta vez não tão óbvia, mais potente, eficiente e onipresente que as anteriores: o poder simbólico. Trata-se da manipulação de símbolos, conceitos, ideias e crenças para o atingimento de seus objetivos. Em seu nível mais elevado (de toda a sociedade), o poder simbólico é conhecido como “cultura”.
A lógica do campo cultural, segundo Bourdieu, age para criar, legitimar e reproduzir um sistema de desigualdade. E tal ação se processa de forma dissimulada, valendo-se de sua característica dita “natural” e “neutra”. E assim surge a violência simbólica, o uso do poder simbólico para obter o que seria, de outra forma, alcançado pela força. Por meio dessa estratégia, indivíduos ou grupos controlam o poder simbólico sobre outros simplesmente os convencendo de que é assim que deveria ser. Sua maior vantagem é justamente não ser percebido como um poder per se.
O poder simbólico é muito mais eficaz e eficiente que o poder físico porque convence aqueles que dele menos se beneficiam a participarem de sua própria sujeição, tornando-se cúmplices ativos. É muito mais fácil controlar os recursos se um grupo consegue convencer os demais de que deve controlá-los. Não há nem a necessidade de persuadir os demais, estes voluntariamente cedem.
O poder simbólico é essencialmente mal percebido, reconhecido erroneamente. Operando no campo da cultura, o poder simbólico é utilizado, assim, para que os grupos profissionais dominantes mantenham sua dominação, algo que nem o poder físico, nem o econômico conseguiriam a tão baixo custo. Os grupos mais beneficiados o fazem praticamente sem qualquer conflito social, e fazem com que sua dominação pareça natural. Um tipo de vantagem que só pode vir a ser quebrada se a naturalidade e a legitimidade da ordem cultural entrarem em colapso – algo que acontece muito raramente. Porém, quando isso acontece, a arbitrariedade da ordem existente fica exposta, e cenários alternativos passam a ser imagináveis.
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Saiba mais:
A principal referência utilizada foi o livro O círculo privilegiado, de Garry Stevens, publicação da UnB, 2003.
[GA] : Esta marca sinaliza textos sobre o tema gestão arquitetônica.



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