BIM e o processo de projeto [GA]

escritório de arquitetura

Estamos em um momento histórico de transição para um ecossistema de desenvolvimento de projetos mais colaborativo e interconectado. As ferramentas, processos e formas de trabalhar estão mudando rapidamente para uma realidade de projeto simultâneo e de interoperabilidade em tempo real. E os desafios se apresentam com a mesma rapidez em diversos aspectos. Um dos mais importantes certamente é a transformação do processo projetual, o que suscita muita discussão sobre potencialidades e limitações trazidas a reboque.

Uma vantagem óbvia deste novo cenário é a possibilidade real de avanços em um ideal que já existe há algum tempo: o do projeto integrado, ou seja, de quebra da linearidade de projetos desenvolvidos em sequências de tarefas em diferentes disciplinas e acompanhados por cronogramas em cascata. Segundo Andrade e Ruschel (2011), a forma tradicional de projetar promove uma integração parcial após a etapa de concepção arquitetônica, reduzindo o potencial que as demais disciplinas possuem de contribuir para uma concepção de excelência global. Ou seja, a concepção estrutural, de instalações, os custos etc. ficam limitados aos ganhos marginais e propostas de pequenos ganhos de eficiência.

Se todos os projetistas trabalhassem de forma integrada desde a fase de concepção, num processo inteiramente multidisciplinar de tarefas de projeto, o resultado final (ativo operacional) poderia ter padrões de excelência, desempenho e eficiência muito maiores. O projeto desenvolvido no ecossistema BIM deixa isso muito evidente, inclusive facilitando a tomada de decisões e visualização de dados do projeto em todos os seus estágios.

A cultura da prática de projeto está em franca mutação, com bônus e ônus inerentes. A própria forma de visualizar o processo muda, as fases de desenvolvimento adquirem novas interpretações e nuances, as atribuições profissionais mudam, assim como também devem ser revistas suas características de remuneração e documentação. As energias se concentram nas fases iniciais de concepção, reduzindo o espaço das representações abstratas e ampliando o da construção contextual, virtual, e semanticamente rica já em seus primeiros modelos. O processo de projeto se aproxima, mais do que nunca, dos ideais do manifesto ágil e de conceitos contemporâneos de entrega rápida de valor ao cliente antes mesmo de qualquer conclusão de produtos. A atividade do arquiteto fica menos operacional e mais estratégica (passa menos tempo desenhando e mais tempo projetando) [1, p. 436].

Além de entregar valor mais rapidamente, os projetistas entregam mais valor total ao cliente. Mais opções podem ser testadas, mais hipóteses podem ser estressadas num menor espaço de tempo quando comparado ao processo analógico (inclua aqui o processo CAD tradicional). A probabilidade de o cliente estar recebendo uma proposta mais qualificada é exponencialmente maior com o BIM. Isso ocorre porque o modelo passa a ser muito mais que apenas uma representação 3D, é rico em informações e pode ser submetido a testes virtuais, fornece informações, e apresenta ordens de grandeza numéricas já nas fases iniciais de desenvolvimento do partido. Não se comporta mais como uma abstração simbólica de aspectos importantes do ativo construído, mas como uma simulação de fato e integral da obra construída em aspectos amplos, considerando os materiais empregados, o relacionamento entre componentes, os custos e quantitativos resultantes, entre muitos outros aspectos potenciais. Nas palavras de Andrade e Ruschel, o “edifício passa a ser literalmente construído (de modo virtual)”.

O processo se compacta, se adensa, os prazos encurtam, a interoperabilidade entre todos os projetistas aumenta, o desenvolvimento colaborativo e simultâneo passa a ser uma realidade cada vez mais frequente. Análise, síntese e avaliação do projeto arquitetônico passam a se sobrepor cada vez mais. Portanto, a pressão por mais entrega de valor e cada vez mais rápida se acentua. A necessidade de aperfeiçoar processos organizacionais internos, como se seleção de equipes, gestão de pessoas e liderança efetiva se aguçam.

Por fim, um dos aspectos mais importantes na mesa de discussões de hoje: se o projeto paramétrico traz agilidade, precisão e qualidade de informações por um lado, por outro também limita o espaço de desenvolvimento de soluções espaciais às bibliotecas e produtos existentes. Quebrar esse limite significa avançar sobre o conhecimento de programação e outras linguagens para com as máquinas. Este é o caminho ideal? Seria esta a melhor conduta para entregar mais valor aos clientes e à sociedade como um todo? Ao mesmo tempo em que o BIM descortina potencialidades imensas para reduzir brutalmente a carga operacional dos projetistas, também traz alguns limites bastante próximos e óbvios.

[GA] : esta marca sinaliza texto sobre Gestão Arquitetônica.

Leia também:

[1] ANDRADE, M. L. V. X.; RUSCHEL, R. C. Building Information Modeling (BIM). O processo de projeto em arquitetura. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.

Processo de projeto em arquitetura

Saiba mais em:

Gestão do escritório de arquitetura - capa do livro

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