Ainda me espanta que esse conceito esteja ausente num campo (arquitetura e urbanismo) que lida com a escassez de recursos. Os arquitetos estão sempre próximos às pessoas mais carentes de nossa estrutura social, lutando por melhores condições de justiça social, por moradia digna para todas as famílias (independente de seu formato), por cidades justas e funcionais, em defesa de nossos recursos naturais, e presentes em tantas outras causas tão nobres.
Durante nossa pesquisa encontramos sócios-titulares conscientes do custo de oportunidade de tempo do escritório, e atribuindo o real valor aos escassos recursos de pessoas disponíveis. Por outro lado, o custo de oportunidade econômico-financeiro era quase inexistente: ouvimos diversos entrevistados com raciocínio financeiro estático, considerando que retirar o investimento realizado daqui a dez anos, corrigido pela inflação, seria o mesmo que “sair no zero a zero”, ou seja, não ter perdas nem ganhos.
Não estou aqui falando exclusivamente de lucro ou prejuízo, pois o investimento realizado em qualquer empreendimento não deixa de ser um empreendimento com impacto social. Existem recursos construídos a duras penas por uma sociedade desigual alocado ali, e mesmo que seu escritório não mire em externalidades sociais positivas, possui uma responsabilidade social, no mínimo com seus colaboradores, parceiros e fornecedores que dependem dessa renda, com seus clientes que dependem de sua capacidade de gerar valor de forma concreta, e também consigo mesmo, com os sócios que alocaram seus recursos, seu tempo, sua energia e, em última instância, suas vidas naquele empreendimento.
Um dos temas que mais anseio em levar ao público de arquitetos e urbanistas certamente é o conceito de custo de oportunidade. É necessário democratizar o máximo possível o entendimento de que se o escritório consumir dez anos de recursos socialmente alocados, o mínimo que essa sociedade espera é que algum benefício tenha sido produzido. Preferencialmente algum que se multiplique indiretamente pela maior quantidade possível de beneficiados.
O custo de oportunidade diz respeito ao que esse recurso deixou de gerar durante esses dez anos se estivesse alocado em outro lugar. Esse montante de benefícios não-gerados na hipótese alternativa deve ser a linha mínima exigida de retorno em forma de benefícios, a quem quer que seja.
Se sua organização tem por objetivo viabilizar habitação social, cujo recurso alocado geraria 100 moradias em dez anos com facilidade em outro tipo de empreendimento, o custo de oportunidade de sua organização é 100 unidades habitacionais em dez anos.
Se a sua organização tem por objetivo reflorestar áreas desmatadas, cujo recurso alocado geraria o reflorestamento de 100 hectares em dez anos com facilidade em outro tipo de empreendimento, o custo de oportunidade de sua organização é o reflorestamento de 100 hectares em dez anos.
Quando o custo de oportunidade se refere ao aspecto econômico-financeiro, ou seja, ao dinheiro investido na formação do escritório, o custo de oportunidade dos sócios do escritório é dado pelo custo de oportunidade do capital próprio. Um modelo consagrado para isso é o modelo de precificação de ativos de capital (CAPM). Esse modelo considera os riscos do setor (beta), as premissas mínimas de retorno dadas pelo contexto macroeconômico do momento (taxa livre de risco) e o grau de sucesso com que o mercado tem tido sucesso em conseguir rentabilidade naquele momento (retorno de mercado e prêmio de mercado). Já falamos sobre isso aqui, e vamos retornar ao assunto ainda muitas vezes.
Não é um conceito exclusivamente financeiro, é econômico, envolve benefícios de outras naturezas. E não é um conceito tão difícil de compreender, portanto entendo que também não seja tão difícil de democratizar.
[GA] : esta marca sinaliza texto sobre Gestão Arquitetônica.
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