Bom dia, queridos leitores!
Conforme anunciei em 24 de janeiro passado, hoje darei início a uma série de textos específicos sobre a administração do escritório de arquitetura. Apesar de já ter publicado alguns textos sobre esse assunto no passado (veja aqui), percebi que o assunto, tão caro para mim, estava ficando em segundo plano no blog. A vacina para esse equívoco começa agora.
Atualmente, o assunto vem sendo tratado internacionalmente sob o título Gestão Arquitetônica (GA), o que explica a título desta série de textos. Apesar de ser um tema relativamente recente nas discussões em nosso campo profissional no Brasil, o assunto Architectural Management vem sendo discutido na Grã-Bretanha desde 1964, e aparece com este título em artigos científicos do início da década de 1990.
Alharbi, Emmit e Demian produziram uma interessante síntese sobre essa evolução em 2015 [1], a qual reproduzo aqui em minhas palavras:
- Assim como ocorreu na história da Administração Geral (final do século 19), os métodos de gestão específicos para os escritórios de arquitetura surgem a partir da separação conceitual entre a gestão das operações e a gestão do escritório em si. Em nosso caso, isso aparece registrado em artigo científico no ano de 1964, separando a gestão do escritório da gestão do projeto. Surge a Gestão Arquitetônica.
- Em 1993, a ideia da separação da gestão amadurece, e passa a ser reconhecida enquanto separação de contextos: o ambiente interno, do escritório, e o ambiente externo, dos projetos. Cada ambiente exige uma forma de gestão distinta. Atualmente, não é raro encontrar escritórios de arquitetura brasileiros em que esses papéis de gestão sejam bem separados entre sócios diretores.
- Ainda em 1993, também foi identificada a gradação de domínios em distintos níveis da Gestão Arquitetônica: a gestão em função da escala do objeto. Por exemplo, as escalas urbana, do edifício e de detalhes do edifício demandariam métodos de gestão distintos. Inclusive podem representar categorias distintas de clientes e de interfaces com o mercado.
- O terceiro ponto identificado no profícuo ano de 1993 foi a compreensão de que a Gestão Arquitetônica é uma aproximação filosófica, valorizando indiretamente o empirismo do desenvolvimento do assunto até a atualidade [2].
- Em 1995, a Gestão Arquitetônica, assim como o desenvolvimento de diversas ferramentas de gestão consagradas na atualidade, foi compreendida como processo de aproximações sucessivas, sempre validando cada passo com a realidade empírica dos escritórios. No mesmo ano, a G.A. também foi reconhecida como disciplina acadêmica e profissional, incluindo todas as áreas de conhecimento necessárias ao escritório de arquitetura que estejam além do projeto.
- Em 1996, a Gestão Arquitetônica foi compreendida como um sistema de funções gerenciais combinadas, o que deu grande aproximação entre este entendimento de campo de conhecimento gerencial específico da arquitetura e a Administração Geral.
- Em 1999, o amadurecimento do campo o leva a um novo patamar, colocando a Gestão Arquitetônica em condições de dialogar com os intensos desenvolvimentos do empreendedorismo que viria no início do século 21. Trataremos desse assunto específico em breve.
Espero que esse conjunto de textos possa auxiliar os gestores de escritórios em suas jornadas diárias de gestão, para as quais ainda estamos, infelizmente, numa penumbra, se não em escuridão total. A ideia aqui é mudar esse cenário. Vamos juntos, e bem-vindos a bordo.
Atenciosamente,
RT
[1] ALHARBI, Mohammed; EMMITT, Stephen; DEMIAN, Peter. What is architectural management? Towards a pragmatic definition. Engineering, construction and architectural management. Vol. 22, Ed. 2, p. 151-168, 2015.
[2] Especificamente sobre a valorização do empirismo, recomendo muito a leitura de Antifrágil, de Nassim Nicholas Taleb. Link aqui.
[GA] : sinaliza texto da série Gestão Arquitetônica.
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