O que são falhas de mercado [GA]

Introdução à economia Gregory Mankiw

O mercado livre e aberto, ao contrário do que acreditavam os economistas clássicos, é incapaz de alocar os recursos da sociedade com eficiência. Adam Smith acreditava que a livre concorrência aumentaria a eficiência global da economia e elevaria o bem-estar geral da população. Porém, o mercado operando livremente é incapaz de corrigir alguns desvios e injustiças que surgem. As externalidades negativas produzidas pelos agentes de mercado servem de ótimo exemplo de falha de mercado relevante: poluição gerada na produção ou transportes da construção civil, incomodidade de vizinhança, desigualdade de renda, desemprego, malefícios à saúde humana são exemplos recorrentes.

Algumas vacinas às falhas de mercado costumam vir da atuação do Estado no sentido de mitigar, reduzir ou mesmo eliminar distorções. Essas vacinas se manifestam na forma de agências reguladoras, controle de preços administrados, política monetária com metas de taxas de juros, tributação compensatória, salário-mínimo, programas de renda mínima etc.

O déficit habitacional é um ótimo exemplo de falha de mercado. A livre atuação de agentes de mercado não foi suficiente para prover moradia digna a todas as famílias, ainda que desenvolvedores imobiliários queiram vender o máximo possível de unidades habitacionais. Os subsídios estatais à aquisição de habitação social ou (mais recentemente) para a locação social são iniciativas que objetivam reduzir essa falha de mercado muito presente na vida dos brasileiros.

O simples encontro entre ofertantes e demandantes não é suficiente para que a transação ocorra.

Ainda que os preços nem sempre decorram do equilíbrio entre ofertantes e demandantes, essa tendência ao equilíbrio está presente em qualquer estrutura de mercado, até mesmo no monopólio. Sim, porque mesmo que você seja a única empresa ofertante de algum produto, como energia elétrica ou transporte coletivo, não significa que o consumidor aceitará pagar o preço proposto, nem que o fará sempre na mesma quantidade ou de forma independente em relação ao preço. O consumidor de energia pode optar pela microgeração offgrid e o usuário de transporte pode preferir outra opção de transporte, ou mesmo nem se deslocar num determinado momento.

Vale a pena repassar aqui rapidamente o raciocínio dos economistas clássicos:

Se o preço sobe, o consumidor tende a buscar outras opções, inclusive a restrição de consumo, seja no mercado que for. Mas isso não significa que o preço muito baixo seja uma opção que aumenta vendas. Veremos isso em detalhe na seção sobre precificação, mas é importante salientar que o preço também tem um efeito de percepção de qualidade e de valor por parte do cliente potencial. Um preço muito baixo levanta suspeitas sobre o real nível de qualidade da oferta.

A teoria do equilíbrio entre oferta e demanda está na base da economia clássica. Ela diz que à medida que o preço cai, maior tende a ser o consumo, seja com mais pessoas consumindo ou pela ampliação do consumo individual. E vice-versa. Ou seja, a demanda mantém uma relação inversa com o preço. Quanto mais barato, mais demanda, quanto mais caro, menos demanda.

A oferta funciona da forma exatamente oposta: se o preço subir, haverá mais interessados em vender, e a oferta aumenta. Se o preço cair, alguns produtores vão preferir deixar de oferecer aquele bem ou serviço para oferecer outros, e a oferta diminui. A oferta mantém uma relação direta com o preço.

Os movimentos dos demandantes (aumentar ou reduzir o consumo) e dos ofertantes (aumentar ou reduzir a oferta) tendem a levar o mercado a um ponto de estabilidade, no qual demandantes e ofertantes não alteram mais seus padrões de consumo. Este ponto é chamado de ponto de equilíbrio, no qual uma quantidade de equilíbrio é negociada por um preço de equilíbrio.

Este modelo, apesar de superado por inúmeras outras variáveis em muitos mercados, funciona bem para produtos padronizados, nos quais a marca do ofertante ou produtor não importa, apenas o produto ofertado. Esses produtos são conhecidos como commodities. É a estrutura de mercado em que se negocia sacas de café arábica, de soja ou de algum outro produto do agronegócio, mas seria um péssimo modelo para um prestador de serviços intelectuais.

Quando um profissional liberal oferece seu tempo sem qualquer atributo diferenciador de concorrente algum, significa que competirá principalmente por preço enquanto presta serviços de alta complexidade. Obviamente não é um bom negócio para o ofertante, e passa a ser um excelente negócio ao contratante que compra serviços complexos a preço de banana.

Literalmente.

Sempre que possível, fuja dos mercados concorrenciais, afaste-se da concorrência perfeita, procure oferecer algo tão diferenciado que o mercado veja como uma nova categoria, a ponto de poder ser considerado monopolista da categoria que você criou.

Voltaremos ao tema no futuro.

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