Uma das coisas que mais me preocupa, além de constatar que os escritórios de arquitetura não possuem nenhum tipo de plano de negócios, é ver que nossos colegas não têm a menor ideia do que seria isso e nem de como seria feito. Essa ausência está no epicentro de grande parte das dificuldades de gestão dos escritórios, inclusive porque as simulações necessárias para a construção de um plano costumam naturalmente migrar para outra natureza após o início das operações: a de base de instrumentos de gestão, utilizada no cotidiano do dirigente como facilitador de suas tarefas gerenciais.
Nosso campo tem o mau hábito de menosprezar a necessidade de se planejar o escritório. Também vejo que esse discurso nada produtivo tem origem em arquitetos formados na década de 1970, e existe um motivo lógico para isso. Até a década de 1980, a economia brasileira tinha crescido numa magnitude recordista mundial. Não é força de expressão, é informação literal: exatamente em 1980, o crescimento do PIB brasileiro havia sido o maior salto de crescimento econômico do planeta – e só não ficamos no topo do pódio do século 20 porque o Japão nos desbancou nas duas décadas finais.
Estamos falando de oito décadas em que nosso país passou de um recém-instituída República num imenso território agrário-exportador, cuja população era predominantemente rural, para uma nação que havia se industrializado, urbanizado, investido em infraestrutura e passado por dois surtos importantes de substituição de importações.
Assim, chegamos à década de 1970, no resultado desse processo, com um grupo relativamente pequeno de arquitetos para atender a uma classe média empoderada, enriquecida, urbana, instruída e ávida por realizar coisas que seus pais e avós não puderam. É claro que qualquer escritório de arquitetura minimamente competente daquele momento sobreviveria no mercado, e com grandes chances de ganhar destaque se apresentassem projetos de qualidade.
Mas essa não é a realidade atual da arquitetura no Brasil. Cansei de ver colegas de altíssimo nível, muito competentes e capazes de produzir revoluções na arquitetura brasileira abandonar a profissão por desânimo frente às possibilidades e probabilidades que se apresentavam na virada do século. Quase todos eles são hoje muito bem-sucedidos em outras carreiras, o que comprova a alta capacidade intelectual que perdemos. Este é um sinal muito claro de que não estamos num campo adequado aos aventureiros, planejamento é fundamental. É necessário para sobreviver no atual contexto de mercado.
Pretendo continuar a publicar aqui textos que ajude nossos colegas neste desafio, apresentando ferramentas, métodos, técnicas e teorias contemporâneas, traduzindo-as para as necessidades e realidades de nosso campo. Seguimos.
[GA] : esta marca sinaliza texto sobre Gestão Arquitetônica.
Saiba mais:
![Voo sem plano nos escritórios de arquitetura [GA]](https://ricardotrevisan.com/wp-content/uploads/2021/04/conceitonegocios.jpg?w=240&h=300)
