O Censo 2022 do IBGE identificou características importantes e distintivas em nossa composição e distribuição demográfica. Uma das constatações mais importantes, do ponto de vista urbano, foi a consolidação de uma enorme constelação de cidades pequenas: 44,8% dos municípios brasileiros têm menos de 10 mil habitantes. E, como se pode imaginar a partir desse dado, a conclusão seguinte foi que nossa população está se concentrando cada vez mais em cidades grandes: 57% da população do país está localizada em apenas 319 municípios (menos de 6% do total).
O fenômeno está bem caracterizado na descoberta de que muitos municípios pequenos e médios no Brasil perderam população, enquanto quase todas as maiores cidades do país cresceram ainda mais em termos populacionais. Porém, mesmo entre as maiores cidades brasileiras, algumas também estão perdendo população: das 20 maiores, 8 delas (40%) tiveram crescimento populacional negativo. São elas:
- São Gonçalo (RJ): -10,3%
- Salvador (BA): -9,6%
- Belém (PA): -6,5%
- Porto Alegre (RS): -5,4%
- Recife (PE): -3,2%
- Belo Horizonte (MG): -2,5%
- Rio de Janeiro (RJ): -1,7%
- Fortaleza (CE): -1,0%
O destino dessa população migratória parece ter preferência por grandes cidades nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste do país. As cinco cidades que mais cresceram entre 2010 e 2022 foram:
- João Pessoa (PB): +15,3%
- Manaus (AM): +14,5%
- Campo Grande (MS): +14,1%
- Brasília (DF): +9,6%
- Teresina (PI): +6,4%
Isso demonstra a aceleração de movimentos migratórios interurbanos e um processo agudo de concentração populacional em grandes metrópoles. Mas não em qualquer metrópole, parece haver maior liberdade e fluidez populacional doméstica, e as famílias parecem estar selecionando com maior poder de escolha onde desejam viver. Além disso, a percepção de insegurança e de violência urbana parece estar contribuindo para esses movimentos.
Esse movimento migratório, ao contrário do que ocorreu em eras passadas, tem sido conduzido por chefes de família (ou indivíduos sozinhos) bem instruídos, de renda elevada e alta capacidade produtiva. Ou seja, os municípios que os recebem têm muito a comemorar, enquanto os municípios (especialmente os grandes) que perdem população tendem a enfrentar maiores problemas sociais nos anos vindouros, pois uma parte significativa da população carente não possui a capacidade migratória atual, muito baseada em tecnologia da informação e processos de reprodução do capital descentralizados.
De toda forma, poucos países do planeta vivenciaram concentrações urbanas tão altas, e os resultados desse tipo de fenômeno são predominantemente desastrosos. Temos que estar atentos aos novos desafios urbanos de cidades que experimentam crescimento acelerado neste momento, e nos lembrar que fazer planejamento urbano no Brasil (e para o Brasil) significa pensar em soluções viáveis para municípios pequenos.
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