Nós, humanos, temos muito mais facilidade para aprender qualquer coisa quando ouvimos alguém contando uma história. É uma atividade tão prazerosa que atravessa milênios e culturas por todo o globo terrestre. Pelo menos no imaginário popular.
Ao contar uma história, verificamos se uma proposta qualquer faz sentido. A narrativa precisa fazer sentido para ser crível, e esta é a transação básica de quem vive de contar histórias, como escritores e roteiristas. Além disso, permite apresentar, compreender e testar conceitos abstratos, complexos, ambíguos e mutantes.
Num mundo estável, racional e linear, contar uma história não passa de uma atividade lúdica. Mas no atual mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), faz sentido retomar costumes primordiais para verificar se um atributo qualquer que se queira oferecer ao mercado teria, de fato, valor percebido pelo potencial cliente. E é isso o que grandes corporações estão fazendo. Curiosamente, copiando práticas cotidianas de arquitetos e designers para produzir mudanças que os próprios arquitetos e designers ainda precisam fazer.
A regra geral é que um atributo advindo de uma prestação de serviço, por exemplo, tem valor, de fato, se puder ser descrita em uma narrativa coerente aos ouvidos do seu mercado-alvo. Este conceito é tão forte que autores de metodologias ágeis, como J. J. Sutherland (Scrum), de planejamento enxuto de negócios, como Osterwalder e Pigneur (Canvas), ou do Oceano Azul (Kim e Mauborgne) dão grande importância à narrativa no planejamento e gestão de negócios.
Estes autores apresentam propostas altamente aderentes às necessidades dos arquitetos, em boa parte por serem objetivas, sintéticas, lógicas e enxutas. Exatamente como a atividade cotidiana dos profissionais de projeto. O canvas, em especial, tem ainda a vantagem de ser um método visual. Veja que, ainda assim, o canvas alia o raciocínio gráfico à narrativa para verificação da proposta de valor.
Isso não é nada novo para profissionais projetistas. Se você observar bem, a apresentação de um produto ao cliente costuma ser, de alguma forma, narrada. É quase impossível raciocinar, desenvolver ou apresentar um projeto sem narrativas. Isso faz parte do pensamento projetual, uma forma de raciocinar sobre incertezas e problemas pouco definidos que desafia todos os mercados atuais, mas que, para o nosso meio profissional é um hábito milenar. Por isso o tal do design thinking anda tão popular em ambientes de negócios.