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por Ricardo Trevisan, arquiteto e urbanista
A linha 17 (Ouro) do Metrô de São Paulo já está nascendo obsoleta, em todos os aspectos. Primeiro, está sendo desenhada para capacidade média (30.000 passageiros / hora sentido), inferior à capacidade que temos nas outras linhas da cidade. Acontece que ela ligará a linha 1 (Azul) a uma das regiões que mais concentra empregos na cidade, formada por Marginal Pinheiros / Berrini / Morumbi. Ou seja, parece que a Companhia do Metropolitano de São Paulo está esquecendo que do outro lado desta linha estará o maior fornecedor de mão de obra da cidade: a Zona Leste e ABC, que chegarão facilmente à linha 1 através da linha 2 (Verde) que agora chega até Vila Prudente e liga o ABC pela Estação Tamanduateí (CPTM).
Outro aspecto é que está sendo feito como um elevado, com um impacto na paisagem devastador, e pode trazer a degradação que o Elevado Costa e Silva trouxe nos anos 1970 aos Campos Elíseos. Continuamos sendo comandados por administrações públicas que entendem a cidade como uma máquina, funcional, que não pode parar. Precisamos superar este paradigma e entender a cidade brasileira como um sistema de ambientes urbanos, à qual a função “estar” deve ser incluída. A Avenida Jornalista Roberto Marinho já está sofrendo um processo de degradação em função do tráfico de drogas crescente na região.
Guarde bem este post. Daqui a alguns anos, quando a linha 17 estiver lotada, em colapso, e seu entorno estiver desvalorizado e degradado, eu poderei dizer: eu avisei. E avisei pessoalmente o Metrô no dia 1 de março de 2011, no seminário “Transporte sobre trilhos em São Paulo”, realizado na Rua Genebra, 25, Centro, São Paulo – SP.
[Responda também à pesquisa sobre transporte público neste blog.]
Fico muito feliz em comunicar que este Blog atingiu a marca de 10.000 acessos. Muito obrigado a todos vocês que o utilizam diariamente. Espero que este seja só o início de uma longa caminhada de crescimento e excelência.
Ricardo Trevisan
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Olá Ricardo, você pensei que você até teve participação no projeto desta linha para o território de Santo André.
Você sabe a previsão de conclusão da obra?
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Evandro,
Esta linha vai do Morumbi (linha 4) até o Jabaquara (linha 1), não vai para o ABC.
Não sei dos prazos do Metrô.
O problema dela é ser extremamente agressiva à paisagem, o que degrada o entorno, desvaloriza os imóveis próximos e costuma atrair violência urbana, como aconteceu com o Elevado Costa e Silva (Minhocão). Além disso, é de média capacidade, ou seja tem mais ou menos metade da capacidade de uma linha de Metrô. O pessoal dos bairros próximos deveria brigar por um Metrô de verdade.
Este tipo de trenzinho é usado em outros países para linhas de menor demanda ou para parques de diversão, como na Disney. Em São Paulo ele vai andar lotado.
Um abraço,
RT
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Ricardo, adorei a matéria! Concordo totalmente! Faço parte de um grupo contra o monotrilho no Morumbi! Somos a favor do metrô! Se quiser junte-se a nós! Um abraço, Ana
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Oi Ana Carolina,
Também sou a favor do metrô, mas não neste formato (aéreo e de média capacidade). É muito impactante na paisagem e vai ter demanda muito grande nos horários de pico.
Um abraço,
RT
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Não vejo a hora do governo começar a obra, gostei bastante da foto. Parabéns ao autor do artigo, acho que mora no Morumbi, talvez…
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Oi Pereira,
Não moro no Morumbi, não. Meu interesse no assunto é técnico, sou urbanista.
Um abraço,
RT
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Calma, meu jovem, você não sabe do que está falando, é só um arquiteto, não um engenheiro metroviário; se o metrô projetou a linha para 30 mil usuários/hora/sentido, ele sabe o que está fazendo, tem mais de 50 anos de experiência prática e teórica em estudos e construções de linhas, as quais, aliás estão entre as melhores do mundo. Quanto ao impacto à paisagem, basta ver a Linha 15-Prata, monotrilho, na zona leste, em São Paulo mesmo; um meio de transporte não-poluente, moderno, rápido e eficiente é muito mais valioso para uma população do que uma vista 100% não-obstruída do céu a partir do chão (porque a vista dos prédios não sofrerá a menor alteração). Além disso, em relação à desvalorização imobiliária, mais uma inverdade colocada por você; basta uma simples pesquisa (que, como você aparentemente não sabe fazer, faço para você: https://www.metrocptm.com.br/novas-estacoes-do-metro-promovem-boom-imobiliario-em-seu-entorno/) para ver que a chegada do metrô valoriza a regiões da cidade por onde passa.
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Boa tarde, Andrei
Agradeço pelo “jovem”, mas não sou mais tão garoto assim. Gostaria de esclarecer também que os arquitetos não são “só” arquitetos, somos também urbanistas, portanto o planejamento, projeto e design urbanos constituem o nosso métier primordial. Aparentemente, você não sabia disso. Concordo que o Metrô de São Paulo seja um dos melhores do mundo, como pude conferir pessoalmente visitando outros similares em diversos países, o que me causa orgulho enquanto paulista. Não leve minhas críticas para o lado pessoal, elas estão aí justamente para mantermos este patamar de qualidade. Entretanto, devo discordar de suas colocações em alguns pontos: 1) acredito, sinceramente, na capacidade técnica dos técnicos da companhia. Inclusive sou amigo pessoal de alguns deles, o que só reforça esta minha convicção. Mas isto não nos livra de enganos, pois somos todos humanos. E eu duvido muito que um passageiro apertado com outras oito pessoas em apenas um metro quadrado, no horário de pico, esteja satisfeito com este cálculo feito por alguém com mais de 50 anos de experiência. Não subestime os jovens, eles são capazes de coisas incríveis em minutos com a intimidade que possuem com programação e algoritmos. Valorizo muito e respeito quem começou a vida na régua de cálculo, acredito que poucas pessoas detêm o conhecimento crítico no assunto como eles, mas isso não os blinda de possíveis críticas; 2) Causa-me estranheza ler de alguém que imagino ter o benefício da visão dizer que a Linha 15 – Prata proporciona “100% de vista não obstruída do céu a partir do chão”. Esta declaração causa tal perplexidade que acredito precisar de uma situação extrema para comprovar que isso não é verdade, então aqui vai: imagine passarmos esta mesma linha ao longo da orla das mais belas praias do Brasil. Se, ainda assim, você acreditar disso, faltam-me argumentos, sinto; 3. A valorização imobiliária obtida em termos financeiros, comprovados por metodologia científica, conforme prevê a NBR 14.653, de fato, é inegável. Porém, falo de desvalorização econômica, e não financeira, um conceito que parece lhe ser desconhecido, então esclareço: esta última (econômica) considera também os custos de oportunidade. Isto é, compara com alternativas de investimento. Caso se interesse, recomendo uma leitura, por exemplo de “A imagem da cidade”, de Kevin Lynch, um trabalho amplamente conhecido entre nós, urbanistas (que somos também arquitetos), o qual relata um caso interessante ocorrido em Nova Jersey, EUA, que demonstra o valor de se libertar a paisagem de estruturas aéreas. Traduzindo: a linha aérea de fato traz valorização imobiliária, mas, ao que tudo indica, a valorização trazida por outro sistema com menor impacto na paisagem é potencialmente maior.
Grato por me proporcionar este oportunidade de uma conversa franca e madura, fique à vontade para fazer suas colocações. Também gostaria de ouvir a opinião de outros leitores.
Abraços,
RT
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Boa tarde!
Apesar de ser leigo no assunto, gostaria de dar uma pequena contribuição.
Toda e qualquer intervenção urbana possui seus prós e contras, seja ela uma avenida ou uma linha de metro. O maior desafio é exatamente fazer um projeto e planejamento que tenha um equilibrio entre custo e benefício (econômico, social e ambiental).
Moro no Japão há 17 anos e na província onde resido esta havendo um grande debate a respeito da construção da nova linha ferroviária do trem bala. Embora tenha um impacto econômico muito positivo pra região, muitos moradores e inclusive o governador não estão muito contentes com a proposta devido ao impacto ambiental que ela pode causar ( a construção de alguns tuneis pode afetar os rios que abastecem as cidades próximas e produtores rurais locais).
Também não se deve menosprezar o impacto sobre a paisagem urbana; Ela é importante para a saúde física, mental e emocional dos habitantes. Um exemplo disso são os abrigos provisórios de desastres naturais daqui. São totalmente funcionais, mas a maioria não gosta de morar nelas devido ao ambiente monótono que criam. Algumas chegam a ter problemas psicológicas por causa disso quando precisam ficar nelas por meses ou anos.
Obrigado pela atenção!
Jorge
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Olá, Jorge
Obrigado pelas contribuições, bem colocado. Só acrescentaria que a valorização imobiliária, tanto alardeada pelo Metrô de São Paulo, também depende (e muito) da paisagem urbana. Qualquer laudo de avaliação comprova isso facilmente.
Abraços,
RT
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Olá a todos!
Sinto-me na obrigação de me manifestar, uma vez que um jovem em post anterior, comparou a linha 17-Ouro com a Linha 15-Prata.
Embora já inaugurada há tempos, desde novembro/dezembro de 2019 os trens da linha 15-Prata estão parados, com todas as estações desativadas, pois não oferecem segurança aos usuários.
Na minha opinião, o metrô tem de ser eficiente e atender as necessidades da população que dele precisa diariamente, de forma confortável e segura.
Não adianta nada uma possivel valorização de imóveis no entorno, se o objetivo maior, que é o transporte de passageiros esta sendo negligenciado pelo metrô e pelo Governo.
Oa trens foram comprados há anos e somente agora foram detectadas irregularidades.
Sem dúvida o planejamento deixou a desejar e a Linha 15-Prata que eu conheço, em nada se parece com a maravilha citada pelo jovem acima. Pelo menos, não por enquanto.
No meu ver, a Linha 17-Ouro poderia ser reprojetada para atender a população de forma eficiente (entre elas conforto e segurança aos passageiros), bem como causar menos impacto urbanístico, como defendido pelo autor do blog.
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Obrigado pela contribuição. Eu desconhecia alguns dos fatos que você apontou.
Abraços,
RT
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