Enquanto parte do mundo [1] começa a retomar suas atividades “normais” da era pré-pandemia, surge a ilusão de que estamos retornando àquilo que se convencionou chamar de “velho normal”. As coisas parecem caminhar para voltar à forma como tudo era antes.
Mas certamente não é bem essa a melhor interpretação para o momento presente. A maior pandemia de nossa era se mostrou também um gatilho para diversas mudanças que estavam latentes, grande parte delas associadas a diversas possibilidades tecnológicas pré-existentes em 2020.
Isso pode não ter (ainda) mudado a estrutura física do mundo, mas mudou profundamente as estruturas de nossos modelos mentais. Assim começam as revoluções: com a percepção de que o mundo tangível não comporta mais o mundo da racionalidade humana em seu novo estágio. O passo seguinte todo mundo já conhece: a reforma física, custe o que custar (e pode doer).
A pandemia exigiu ajustes e comportamentos contingenciais, é (continua sendo) uma situação emergencial, atípica. Mas depois que ela passar (de verdade), algumas alterações serão permanentes. E as permanências serão melhor evidenciadas quando a contingência emergencial estiver vencida por unanimidade de interpretações.
Ainda não temos nem ideia do que vem por aí, porque é impossível estimar os desdobramentos múltiplos que veremos a partir de um futuro próximo. Mas a mudança dos modelos mentais já aconteceu: as pessoas e instituições não são mais as mesmas. Praticamente todos experimentaram alguma forma diferente de desempenhar pelo menos uma atividade cotidiana nos últimos dois anos.
Esperar pela volta do “velho normal” seria o mesmo que acreditar no slogan trumpista do “make America Great again”: não vai acontecer. Como as coisas serão e a profundidade das mudanças ninguém conhece ainda. Mas é certeza que permanecer no mesmo modelo de 2019 será uma nova modalidade de ostracismo de costumes (para pessoas) ou suicídio corporativo (para empresas).
Desejo a você um feliz mundo novo a partir de 2022. Deixemos o velho mundo para trás, tenhamos coragem para começar as necessárias reformas físicas e estruturais a partir de agora, e sigamos com confiança para a concretização das inevitáveis transformações. Queira ou não, são tempos de mudanças.
[1] Sentido contrário ao da Europa, por exemplo, onde a alta de casos de covid motiva novos lockdowns.
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