E a história dos historiadores?

Excluindo nossos colegas que obtiveram informações nas pesquisas primárias em documentos e outros registros, todos (nós) os demais acumulam conhecimento por meio do que nos trazem os historiadores. E vamos, assim, conhecendo um a um, e tendo contato com diversas vertentes de interpretações dos fatos ocorridos. Eventualmente, conseguimos até deduzir algumas coisas sobre aqueles que nos dizem, o que nos ajuda a ponderar diversos paradigmas.

Mas não faltaria um prefácio para essas leituras, nos preparando para as características da lente por meio da qual vamos olhar o passado? Não seria interessante uma nota prévia, preferencialmente de alguém com visão distinta da trazida pelo autor, de forma a nos alertar para quais filtros ou ponderações deveríamos ativar ou não durante a leitura?

Recentemente, tive contato com um trabalho que muito contribui para mitigar este risco: o trabalho de Josep Maria Montaner sobre a crítica na arquitetura: Arquitetura e crítica. Este belo e objetivo trabalho traz pelo menos três capítulos que nos auxiliam muito na leitura de textos mais populares sobre a história da arquitetura. Auxiliam tanto que me instigam a voltar a muita coisa que já li e absorvi sem o cuidado de ponderar possíveis (ou inevitáveis) vícios de origem.

Entre outras diversas informações importantes dos nomes mais citados em nosso campo, Montaner nos traz alguns alertas que eu gostaria de ter recebido 25 anos atrás. Por exemplo, saber que Sigfried Giedion (1888-1968) era amigo íntimo de Le Corbusier, Walter Gropius e Moholy-Nagy, e foi cofundador e o único secretário geral dos CIAM – o que leva à conclusão de que a pretensa imparcialidade do historiador certamente foi, neste caso, muito afetada. Segundo Montaner (p. 45 da versão em espanhol), não só a objetividade do historiador foi sacrificada, mas também direcionava o pluralismo da cultura arquitetônica daquele momento numa única direção.

Este é apenas um exemplo, Montaner traz muitos outros. Por exemplo, nos interessa saber que Nikolaus Pevsner começou sua carreira pesquisando o Barroco alemão, e que sua primeira atividade profissional foi como curador da Pinacoteca de Dresden. Ou que Bruno Zevi (1918-2000), conhecido defensor da arquitetura orgânica como alternativa para superar contradições da ortodoxia moderna, nasceu em Roma e fugiu do fascismo italiano para os Estados Unidos, onde lecionou em Harvard sob a direção de Walter Gropius. Ou que Leonardo Benevolo (1923-2017) iniciou suas pesquisas pelo Renascimento e teve muita influência do marxismo antes de escrever sobre a função social da arquitetura.

Fica a dica de um excelente livro, obrigatório para quem milita nas fileiras da teoria e do contexto histórico. Uma leitura das mais agradáveis, não poderia ser diferente num texto de Montaner.

Saiba mais:

Arquitetura e crítica. Josep Maria Montaner

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