Barcelona para arquitetos

Dividi este texto em algumas partes para facilitar a leitura:

Contexto
Principais obras
Obras adicionais
Livrarias
Refeições, transporte e hospedagem

As dicas abaixo foram construídas a partir de uma estadia de aproximadamente dez dias em Barcelona, sem incluir deslocamentos para localidades próximas, nem mesmo a Badalona. É uma sugestão de roteiro a ser feito sem pressa, com tempo suficiente para vivenciar com calma cada uma das obras e localidades.

Contexto

Antes de correr pela Ensanche de Cerdá ou ir às obras emblemáticas de Gaudí pela cidade, se houver tempo disponível, recomendo que inicie o roteiro pela compreensão da Catalunha e de um básico de sua história. Para isso, sugiro iniciar o primeiro dia completo em Barcelona pelo Museu de História da Catalunha (Estação Barceloneta do metrô, Linha 4 – Amarela). Além de auxiliar na construção de um contexto mental para o que será visto na cidade, a exposição é muito bem montada, com uma museografia competente, também expõem uma bela e rica história dessa região, a qual se sobrepõe parcialmente à da Espanha enquanto nação. Havendo a possibilidade, considero esta visita essencial. Os textos estão em catalão, mas é possível compreender muita coisa por ser uma língua próxima ao português.

Após o almoço, sugiro mergulhar e “se perder”pelo Bairro Gótico a partir deste quadrante, de forma a sentir a espacialidade urbana de Barcelona da época da cidade murada. Fica muito mais fácil entender a demanda pela cidade moderna, ampla, aerada e regular da Ensanche a partir dessa vivência.

Aproveite a oportunidade para visitar o Mercado Born, uma estrutura que atualmente abriga ruínas da cidade antiga em suas bases. Nessa visita é possível perceber o antigo arruamento e um curioso desalinhamento geométrico entre a cidade antiga e a atual. Também estão visíveis sistemas hidráulicos de escoamentos públicos. Não deixe de entrar, a visualização das ruínas é gratuita.

Principais obras

Entendido o básico, eu iria logo para a obra-prima (para garantir): visite logo a Basílica da Sagrada Família, obra máxima de Antoni Gaudí. Recomendo comprar os ingressos antecipadamente (no site oficial) para ganhar tempo na entrada. Também sugiro se aproximar dela caminhando pelas ruas, o que dá a dimensão impressionante do salto de escala e de gabarito que existe entre a manzana padrão da cidade e a basílica. Imagino que você seja profissional ou estudante da arquitetura, então essa obra dispensa comentários a este público.

Após a visita à Sagrada Família, que deve tomar uma manhã toda (para arquitetos), recomendo almoçar e visitar duas outras obras importantes de Gaudí que não estão distantes: a Casa Milá (La Pedrera) e a Casa Batlló (site oficial), ambas localizadas no Passeig de Gràcia. Para essas duas visitas, também recomendo comprar ingressos antecipadamente pela internet, poupa muito tempo em filas para compra.

A Casa Milá (La Pedrera) também guarda um bônus especial para arquitetos no ático: um resumo das obras de Gaudí com maquetes e outros elementos museográficos interessantes. Faz parte do espetáculo para nós.

 

Reserve um período maior para visitar o Parque Güell. Um pouco mais distante da área central, mas perfeitamente acessível de metrô se você puder fazer uma caminhada em aclive (estação Lesseps, Linha 3 – Verde). Também dispensa comentários adicionais para arquitetos.

Outra obra obrigatória aos arquitetos em Barcelona é o Pavilhão de 1929 (Mies van der Rohe). Esse, como é só para arquitetos mesmo, não tem fila para entrar (pelo menos não enfrentei nenhuma). Mas recomendo chegar cedo para conseguir ver o pavilhão sem muita gente. Muito bem conservado, uma experiência emocionante. Não deixe de visitar! E não recomendo entrar na lojinha com cartão de crédito ativo, pode ser perigoso.

Obras adicionais

Após cumprir com as obrigações arquitetônicas pela cidade, havendo tempo disponível, podemos adicionar mais algumas visitas a outras obras incríveis. Tão interessantes que eu consideraria estender uma eventual permanência em Barcelona para poder conhecê-las.

A primeira delas é uma construção antiga (século I d.C.), ainda do Império Romano, muito bem preservada. Trata-se de um estaleiro onde foram construídas galeras romanas fundamentais para o domínio do Mediterrâneo, algo tão bem conquistado que permitiu a Roma o denominar Mare Nostrum (nosso mar). O edifício abriga hoje o Museu Marítimo, que vale a visita. Inclusive por conta de uma impressionante réplica de uma galera (tamanho real) em seu interior.

(O ingresso do museu marítimo inclui a visita a uma embarcação atracada ali perto. Ignore, use esse tempo para tomar um sorvete ou café, a embarcação não tem nenhum atrativo relevante).

Outra obra que vale a visita é o impressionante Palácio da Música Catalã (Palau de la Música Catalana), na Carrer Palau de la Música 4-6. Existe a possibilidade de se fazer uma visita guiada (paga) por esse exuberante edifício, mas visitar o térreo e ir até o café (foto abaixo) é gratuito e vale muito a pena.

Os melhores museus de arte da cidade parecem ser o Museu Picasso (no Bairro Gótico, Carrer Montcada 15-23) e a Fundação Miró (no Parque Montjuïc).

Também recomendo visitar o MACBA (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona), um edifício interessante numa zona de transição entre o Bairro El Raval e a Ensanche (Eixample, em catalão). Vale pelo edifício e pelas exposições. Ao lado fica o CCCB (Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona), que costuma abrigar boas exposições e conta com uma boa livraria na entrada.

Se você pretende visitar alguns desses museus, o Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC), ou a Fundação Antoni Tàpies, recomendo comprar um passaporte chamado Articket Barcelona, que sai bem mais barato que ficar comprando ingresso em cada museu. O passaporte é entregue a você no primeiro museu visitado e tem validade de até um ano para visitar os cinco demais.

Minha percepção pessoal de interesse para arquitetos desses museus é a seguinte, do mais interesse para o menos interessante do ponto de vista de arquitetura e urbanismo, considerando o conjunto edifício-contexto-exposições:

1. Fundação Miró
2. Museu Picasso
3. MACBA (localizado ao lado do CCCB)
4. CCCB (localizado ao lado do MACBA)
5. Museu Nacional de Arte da Catalunha
6. Fundação Antoni Tàpies

Não compre nenhum ingresso por intermediários, recomendo usar sempre os links de sites oficiais (deixei todos no texto acima).

Outra região de interesse para arquitetos e urbanistas é a área da Vila Olímpica, importante referência de revitalização urbana por ocasião das Olimpíadas de Barcelona (1992). É uma região extensa, principalmente se incluir o porto olímpico, então reserve um período maior para esse trajeto, e o faça preferencialmente a pé ou de bicicleta.

Falando em Miralles e Tagliabue, quando estiver pelo Bairro Gótico, aproveite para visitar o Mercat de Santa Caterina (um pouco a noroeste do Museu Picasso), uma interessante obra do casal de arquitetos resultante do ativismo do escritório pela preservação deste antigo e emblemático mercado, o qual chegou a receber autorização municipal para demolição. A área, que seria destinada ao desenvolvimento de outros empreendimentos imobiliários privados, foi preservada e recebeu um belíssimo projeto de preservação, reforma, nova cobertura e uma interessante relação estabelecida com seu entorno construído. O mercado está mais vivo que nunca, vale muito a visita. Circunde a periferia do edifício para ver a relação com edifícios do entorno.

Uma curiosidade: Benedetta Tagliabue continua morando e trabalhando no Bairro Gótico de Barcelona. Vide série de TV Home (AppleTV+, Temporada 2, Episódio 9).

O Parque de Montjuïc possui um teleférico em sua porção mais alta (proximidades do Castelo de Montjuïc) muito mais interessante que o teleférico de Barceloneta. Além de serem cabines menores, possuem grandes vidros e estão numa posição mais alta, o que permite uma visualização bem mais interessante da cidade, do porto e do mar.

Existem também outras obras interessantes de Gaudí por Barcelona, e vale a pena visitar se o seu cronograma permitir. Duas de destaque são o Palau Güell (no El Raval), mais interessante ainda por dentro, e a Casa Vicens, no Bairro Gràcia (também perto da estação Lesseps do metrô, linha 3 – Verde).

Livrarias

Barcelona é um espetáculo em termos de livrarias. Muitas e excelentes. Deixo aqui uma pequena amostra de sugestões:

Laiê Livraria e Café: Carrer de Pau Claris, 85. Assuntos variados, bem completa, prioriza obras em catalão.

Libreria Altaïr: Gran Via de les Corts Catalanes, 616. Especializada em livros sobre viagens, inclui até uma agência de viagens em seu interior. Possui um acervo muito grande sobre o assunto, incluindo mapas. Não deixe de ver o subsolo, vale a visita mesmo que não pretenda comprar nada, é algo que não existe (até onde sei) no Brasil.

Libreria Ona: Carrer de Pau Claris, 94. Com uma ambientação interna interessante, oferece livros em catalão e espanhol. Temas variados.

Norma Comics: Passeig de San Joan, 9. Especializada em quadrinhos, passagem obrigatória para quem curte esse formato. Possui um acervo incrível, incluindo um subsolo inteiro dedicado às asiáticas (principalmente mangá).

Refeições, transporte e hospedagem

Em outubro de 2023 encontrei em Barcelona refeições pelos mesmos preços encontrados em grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio ou Brasília. Os pratos típicos de lá são os preparados com base de arroz (como fideuás), paellas, montaditos (pequenos sanduíches), batatas bravas (apimentadas), tapas (petiscos) etc.

Uma excelente experiência que tive para refeições foi a Cervecería Catalana (Carrer de Mallorca, 236), onde é possível pedir ótimos petiscos acompanhados de cervejas ou vinhos da região. É concorrida, melhor chegar cedo.

Outra descoberta interessante para uma refeição leve ao final do dia foi o Josephine Barcelona (Carrer de Pau Claris, 147). Também um ponto prático por estar próximo a muitos pontos de interesse a arquitetos.

Para dicas de transportes em Barcelona, encontrei um site interessante chamado Passaporte BCN, obtive dicas valiosas por lá. Principalmente as dicas (link aqui) para se deslocar do aeroporto à cidade sem pegar táxi, que custa uma fortuna por lá.

Quanto à companhia aérea, tive alguns problemas com a TAP, não recomendo. Partindo do Brasil, prefira uma companhia com voo direto de Guarulhos para a Espanha (atualmente existem pelo menos outras duas operando esta rota). Eu também evitaria a conexão no aeroporto de Lisboa em função de uma atual demora exagerada na liberação de brasileiros pela imigração e pelas conexões confusas e muito curtas que eles costumam fazer por lá. Evite esse estresse. Caso tenha que fazer uma conexão em Madri (como em voos da Iberia, por exemplo), procure deixar uma folga de pelo menos umas 2h30min para não ter dor de cabeça logo no começo da viagem.

Para hospedagem, recomendo ficar ao sul ou sudeste da Sagrada Família, mas não no Bairro Gótico nem no El Raval, regiões menos seguras (e menos limpas) após o anoitecer.

Boa viagem! Espero ter ajudado. Envie seus comentários, gostaria de saber se faltou algo importante.