Os programas habitacionais nacionais invariavelmente levaram (e continuam levando) habitação social para além dos confins da periferia urbana. O programa Minha Casa Minha Vida mantém essa tradição. Um dos problemas que essa política traz é dificultar ainda mais a solução de mobilidade urbana, obrigando o maior contingente de mão de obra a se deslocar por grandes distâncias.
Muitos novos empreendimentos estão surgindo onde havia, até meses atrás, áreas verdes além dos extremos da mancha urbana. Essas implantações aumentam a ilha de calor, ampliam o aquecimento global, impermeabilizam ainda mais o solo, aumentam os problemas de inundações urbanas em chuvas de verão. Isso sem falar que isolam ainda mais a população, expulsam famílias carentes de áreas centrais com melhor infraestrutura para colocá-la onde toda a estrutura de apoio ainda é precária ou inexistente. Além do custo energético de se fazer isso, o próprio custo financeiro é bancado com dinheiro público para que áreas centrais desocupadas possam valorizar terrenos daqueles privilegiados que mantêm uma relação de favores com o poder político do país.
Enquanto isso, os centros urbanos plenamente dotados de infraestrutura e, mais importante, de postos de trabalho, continuam subutilizados em uso habitacional. Por que o Estatuto da Cidade, lei de 2001, ainda não é utilizada para pressionar a retenção especulativa de imóveis urbanos? Que tipo de aliança entre capital e poder impede isso?
Mais do que investir absurdos em infinitas linhas de transporte para enriquecer nossas empreiteiras, devíamos pensar em aproximar moradia de trabalho e poupar tempo de vida do trabalhador.
Esse é só um dos motivos pelos quais o programa Minha Casa Minha Vida precisa ser substituído por um programa habitacional de verdade, que inclua planejamento urbano em seu escopo.
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