Muitos de nossos problemas urbanos estão relacionados ao espraiamento das cidades (urban sprawl). São como manchas de azeite num prato, que muito depois de cessada a fonte, continuam expandindo suas fronteiras. Vamos avançando sobre antigas áreas rurais, sobre a Mata Atlântica, sobre os mananciais, sobre quem nos abastece de alimentos. Ampliamos a mancha de calor e mudamos os regimes de chuvas urbanas, pioramos nossas chuvas tropicais (que, por natureza, já seriam críticas). E deixamos para trás terrenos e imóveis vazios, o filé dos especuladores. O poder público, por sua omissão em planejar, se vê obrigado a levar infraestrutura aos confins urbanos de nosso país, e valoriza por tabela (e às vezes intencionalmente) o filé especulativo. Em vez de adensar, colocar mais prédios nas áreas centrais ou nos bairros cheios de infraestrutura ociosa, preferimos criar grandes manchas urbanas de baixa densidade.
As cidades do mundo que melhor resolveram seus problemas urbanos de infraestrutura possuem uma densidade média superior a 15.000 habitantes por quilômetro quadrado. Nossas cidades ficam em torno de 7.000 hab/km2, menos da metade. A densidade deles pode parecer alta, mas não é. Para se ter uma ideia, a densidade de Copacabana, no Rio, chega a 200.000hab/km2 (2.000 habitantes por hectare).
Vários problemas surgem de nossa baixa densidade urbana. O transporte fica mais complicado, porque as linhas precisam se estender para atender regiões de demanda limitada pela densidade dos bairros. O baixo adensamento dispersa o investimento em metrô e complica a implantação de implantação de transporte de alta capacidade. O trânsito cada vez pior, percorrendo distâncias cada vez maiores. O alto custo e baixa eficiência de implantação e manutenção de infraestrutura urbana – são menos pessoas contribuindo pela luz do poste, e cada vez mais postes a serem implantados e mantidos. A segurança pública é dificultada, pois a área a ser patrulhada é cada vez maior, e o cidadão dos confins urbanos cada vez mais abandonado e apartado dos benefícios urbanos.
O tema começou a ser amplamente discutido em todo o mundo durante os anos 1990, e tomou grande espaço de uma campanha presidencial dos EUA envolvendo inclusive políticos de peso como Al Gore e Hillary Clinton. E a ideia pegou por lá. Um dos países que mais produz periferias e subúrbios no mundo reviu muitos de seus conceitos e promoveu um Novo Urbanismo (lá conhecido por New Urbanism). A Disney chegou a usar o conceito como ferramenta de marketing e construiu uma cidade-fantasia a partir deste conceito: Celebration, na Flórida.
Os prédios que surgem no lugar de casas podem trazer transtornos, mas são, hoje um modelo mais adequado para melhor aproveitar os investimentos feitos no passado e ainda subutilizados. Em bairros com muito prédios é mais fácil pleitear o metrô, são mais seguros por serem mais habitados e terem menos território, são mais eficientes do ponto de vista de custeio público. Precisamos identificar as ações do governo que expandem indiscriminadamente a mancha urbana por benefícios eleitorais de curto prazo, e lutar por cidades mais confortáveis e saudáveis.