O maior inimigo do PT não é o PSDB (nem a direita)

Pense em dois grandes navegadores portugueses. Agora pense num terceiro.

Pense em dois homens que pisaram na Lua. Agora tente se lembrar de um terceiro.

Pense em dois pioneiros da aviação. Agora, um terceiro.

Pense em duas marcas de um produto que você não compra. E numa terceira.

Tente fazer esse exercício em várias categorias e há grandes chances de perceber uma coisa que o pessoal de marketing já sabe: a mente humana tem maior facilidade para guardar dois elementos, uma dualidade. Mas tem dificuldade em gravar um terceiro. Isso ocorre porque temos mecanismos que facilitam a memorização. Um deles é simplificar a realidade em modelos mentais, como o de duas forças antagônicas em torno de um objetivo comum. Nesse modelo mental, fortalecer um dos elementos fortalece a dualidade, fortalece o antagonismo e dá forças também, ainda que indiretamente, ao outro elemento do sistema por ser o contraponto ao primeiro. Mesmo que um lado ganhe muita força em detrimento do outro, o sistema permanece e a dualidade não desaparece, apenas fica em estado de latência, aguardando seu momento de ressurgir. Há uma opção aguardando por seu acionamento.

Os políticos também sabem disso. Sabem que é melhor perder como a principal referência de oposição do que sair definitivamente do jogo. É por isso que adoram reconhecer derrotas na TV ao vivo após o pleito. Os partidos republicano e democrata norte-americanos querem manter essa dualidade infinitamente, claro. Poucas pessoas sabem que nos EUA há um grande número de partidos políticos, talvez até mais que no Brasil.

Por aqui, dois partidos tentam criar este sistema dual: PT e PSDB. Arrisco dizer que até conseguiram, por alguns anos. Se o derrotado consegue se consolidar como principal referência de oposição, fica em estado de latência no sistema de duas forças antagônicas que existe na mente de seus eleitores, portanto ambos permanecem no jogo, fortes e interdependentes.

É por isso que a maior ameaça atual ao PT não emana do PSDB. Também não emana de qualquer outro partido que represente forças sociais conservadores, porque não é esta sua posição ocupada no sistema dual. Esse partido hipotético substituiria o PSDB, não o PT. A maior ameaça ao PT é que um novo partido de tendência progressista o substitua na mente do eleitor. Foi por isso que a expressiva votação de Marina Silva os assustou tanto em 2010.

E é por isso que o PT faz questão de agregar as forças nacionais de esquerda, mesmo que muitas vezes não se comporte como tal, além de confrontar com intensidade e vigor muito maior os partidos de história e origens similares à sua, do que os partidos de tendências mais conservadoras (com os quais faz até alianças…).

Haddad e Alckmin FOTO: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO

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3 comentários em “O maior inimigo do PT não é o PSDB (nem a direita)”

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